Em excerto autorizado da sua nova autobiografia, a lenda dos Napalm Death Shane Embury revela que começou por tocar bateria, os seus primeiros tempos na banda e no baixo, a magia do tape-trading e andar à porrada com nazis de merda.
Seja no grindcore de raízes punk dos seus primeiros anos ou a maior sofisticação death metal posterior, os Napalm Death foram pioneiros sónicos e permanecem uma das maiores instituições na história da música extrema. Apesar de não ter estado nos anos mais embrionários, Shane Embury tornou-se sinónimo de Napal Death. Para lá da adesão epidérmica causada por malhas como o singular segundo de “You Suffer”, as vocalizações animalescas ou tempestades de blastbeats, os Napalm conquistaram muito do seu estatuto graças a um forte sentido político e à sua tenacidade diante de todas as improbabilidades de sucesso.
O baixista Shane Embury é um dos mais reconhecidos e estimados músicos na cena do metal mais extremo. Juntou-se aos Napalm Death em 1987, seis anos após a formação da banda, mas com o passar dos anos tornou-se o membro com mais anos da formação das lendas do grind. Também já tocou ou toca em bandas como os Lock-Up, Venomous Concept e Brujeria. Ao longo do tempo definiu um inigualável e titânico som de baixo carregado de distorção.
Todo este percurso de Shane Embury ganhou a forma de um livro autobiográfico. Em Life…? And Napalm Death, com edição no Outono de 2023, via Rocket 88, Shane Embury coloca a sua vida em retrospectiva e, em excerto autorizado ao Guitar World (aqui traduzido), recorda como começou a tocar baixo e entrou para os Napalm Death. A única regra era estar tudo no prego. Outra boa lei de vida é que os fascistas são escumalha! Eis o excerto…
Tudo no 11
«Eu e os meus amigos Wayne Aston e Mike Clarke, tínhamos todos guitarras a dada altura, por isso, é claro que toda a gente queria ser o guitarrista. Eu tinha uma coisa barata, mas não me interessava muito por ela. Conseguia fazer uns riffs simples, mas nada mais que isso. O Wayne já tocava guitarra e o Mike acabou por tocar baixo e cantar, por isso pensei: ‘Bem, então vou tocar bateria’.
«Sempre gostei de bater nas coisas, desde os baldes da minha avó quando era miúdo. O único problema era que não tinha uma bateria. Lembro-me de ter tido a coragem de pedir ao meu avô 100 libras emprestadas para comprar uma. Estava borrado de medo, porque ele era um homem muito rígido, mas ele deu-me. E nunca, mas nunca, pediu o dinheiro de volta.
«Nunca me preocupei com aulas de bateria. Só ouvia os meus discos dos Slayer e dos Venom e pensava: ‘Como é que eles tocam tão depressa?’ O meu kit estava montado na sala de estar dos meus pais, atrás do sofá – sofá, televisão, bateria no canto. Só podia ensaiar a certas horas, porque era muito barulhento. Os vizinhos de um lado estavam bem. Os vizinhos do outro lado, que na verdade eram amigos do meu pai, estavam sempre a queixar-se. Não me surpreende, para ser franco…
«Foi então que o Mickey [Harris, baterista] ligou-me e perguntou se queria juntar-me a eles no baixo. Curiosamente, o Nik Bullen [voz, baixo] tinha-me perguntado se eu queria tocar guitarra depois de o Justin [Broadrick, guitarra] ter saído, oito ou nove meses antes. Não tinha a certeza se era capaz de o fazer.
«Agora consigo tocar guitarra razoavelmente bem, mas ainda me stressa. Naquela altura, não havia qualquer hipótese de o conseguir e, basicamente, acobardei-me. Era um dos meus grandes arrependimentos. Portanto, nem sequer tive de pensar nisso. ‘Não vou cometer o mesmo erro duas vezes’, disse-lhe, e foi assim. Era o novo baixista dos Napalm Death.
«Tentava definir o meu caminho como músico. Ainda era influenciado pelas bandas que estava a descobrir através da cena do tape-trading: ‘Isto é ótimo, gosto deste riff, vamos escrever um riff como este’. A música ‘Unchallenged Hate’ foi inspirada por alguns riffs de death metal dos Massacre. E muitas das bandas que estava a ouvir, como os Repulsion, tinham um som de baixo muito abrasivo. Tentava imitar esse baixo distorcido. Tinha que estar tudo tinha no 11.
«Quando olho para os riffs que escrevi para os Napalm em comparação com os riffs que o Bill [Steer, guitarra] escreveu, há uma pureza no material dele. Consigo perceber porque é que fazia sentido um determinado riff acabar onde acabou. Os meus tinham umas notas estranhas, mas isso era apenas falta de conhecimento musical da minha parte.
Nazi Punks Fuck Off
«Os Smashing Pumpkins tocaram em Birmingham e acabei por falar com a baixista deles, D’Arcy Wretzky, enquanto ela estava a fumar um cigarro no exterior. Ela disse-me: ‘Utopia Banished [LP de 1992 do Napalm], gosto desse álbum’. Só consegui responder: ‘Estás a falar a sério?’ Isso significou muito para mim, porque adorava os Smashing Pumpkins.
«Uns anos mais tarde fizemos uma digressão com uma banda de hardcore chamada Sheer Terror. São uns tipos porreiros, mas têm alguma malta duvidosa nos seus concertos. Estávamos na Pensilvânia, a tocar numa sala cheia de gente, quando o grupo nazi local apareceu. Viam-se cerca de 400 miúdos metaleiros na multidão, rodeados por um círculo de nazis. Os mais velhos estavam a empurrar os jovens skinheads para o meio da multidão para começarem a lutar.
Estávamos furiosos, por isso entrámos e abrimos com ‘Nazi Punks Fuck Off’ [dos Dead Kennedys]. E depois voltámos a tocar essa malha logo a seguir, para maior efeito. Isso não caiu bem aos nazis. Tocámos mais duas malhas e eles correram connosco. Tivemos de fugir para os bastidores e barricar a porta, porque eles estavam a tentar deitá-la abaixo. Estava a ficar muito complicado – pensei que iam conseguir passar. Os gajos dos Sheer Terror riam-se: ‘Nós avisámos para não fazerem isso, seus malucos’. E eu apenas pensava: ‘Porque raio é que fizemos isto?
«Às vezes, não são só os fãs que nos chateiam. Tocámos na Rússia pela primeira vez em 1991 e uma das bandas russas com quem estávamos… Bem, não tenho a certeza se eram nazis, mas diziam coisas estranhas. Houve um pouco de tensão, mas não aconteceu nada. Uns anos mais tarde, estávamos a tocar num festival na Estónia e essa banda russa também lá estava. Não tenho bem a certeza do que se passou, mas vi o vocalista a dizer qualquer coisa ao Barney [Greenway, vocalista dos Napalm] e depois a atirar-se a ele. Tinha estado a beber cerveja da Estónia toda a tarde e uma zaragata pareceu-me bem, por isso atirei-me pela janela do camarim e saltei para cima do tipo.
«Não sou um lutador, mas comecei a bater-lhe, altura em que o guitarrista deles me agarrou pelo pescoço. Não sei bem o que aconteceu a seguir, mas parece que comecei a ficar azul, por isso o Mitch [Harris, guitarra] saltou para cima dele e começou a bater-lhe. Por alguma razão, a banda prog Marillion estava no cartaz e lembro-me do seu vocalista, o Fish, se ter rido de mim depois: ‘Seu bastardo louco de Brummie!’»
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Um pensamento sobre “Shane Embury, Tudo no Prego & Nazis de Merda”