Souq, A Saga do Deserto Vermelho

Formados em 2009 são uma das bandas mais inventivas do rock português contemporâneo. Com dois tremendos álbuns, donos de uma linguagem absolutamente singular, os Souq estão a ultimar o seu terceiro álbum. Altura de recapitular o segundo e o terceiro volume da “Red Desert Saga”.

Foi apenas em 2014 que os Souq editaram o álbum de estreia. “At La Brava Vol.II Of Red Desert Saga” tinha apontamentos pouco usuais. Não é assim tão comum, no nosso país, bandas que deixem pistas de influências dos side projects de Mike Patton: Tomahawk, Mr. Bungle ou Fantômas. E que o façam ao fundir, com brilhantismo notável, diga-se, desert rock e pertinentes e continuados arranjos de metais… Isso não é tão comum assim em lado nenhum!

Na sua própria mistura de desert rock com elementos blues, jazz e pop, os Souq descobriram a pólvora. Mas a sua inspiração não bebe apenas da música. A componente cinematográfica deixou uma marca na composição conceptual da banda de Aveiro. Ouvimos perseguições de fazer subir os níveis de adrenalina a partir do trio de sopros, sente-se o reverb meio psicadélico nas pontas dos dedos, e, de alguma forma, consegue-se montar uma narrativa quase noir a partir destas peças bizarras. A inclusão dos sopros prende-se com as possibilidades dinâmicas e harmónicas abertas pela polifonia. De acordo com um dos mentores do projecto, o guitarrista Jorge Loura, em vez dos sopros a opção poderia ter recaído em sintetizações, mas a ideia era ter um som mais orgânico. O que é perfeitamente evidente em cada compasso de “At La Brava Vol.II Of Red Desert Saga”.

“The Dynamite Sisters – Volume Three Of The Red Desert Saga é um álbum com um tremendo backslap de bateria e baixo, num som gigante e extravagante (“The Bishop & The King”) pejado de riffs titânicos (“Penglai Tower”, “M.A.S.K.”). Logo a partir de “The White Angles & Doll Squad” instala-se a descrição do guitarrista Jorge Loura sobre a banda: «Na minha cabeça, era uma coisa muito estranha. Uma mistura de Captain Beefheart com Frank Zappa, com Pantera, com… Fosse o que fosse! Nunca houve uma ideia concreta do que iria sair dali, mas sabia que ia ser uma coisa “polifónica”. Muitas vozes, muito contraponto e muitas possibilidades em aberto». Foi por isso que quis os sopros. Mas podia ter sido um teclado. Mas queria uma coisa mais orgânica.

E se, por exemplo, o single “Dynamite Sisters” ou “Jillucia” nos remete para Tool, o funk de “Duel” é uma bomba com uma assinatura sónica singular. Bruno Tavares (voz), Bruno Barreto (baixo), Gabriel Neves e Paulo Gravato (saxofones tenor e barítono, respectivamente), Rui Bandeira (trombone), João Martins (bateria) e Jorge Loura prolongaram a sua estadia no deserto e o consumo de mescal – vamos dizer figurativamente – para continuarem numa enorme trip de psychedelia, blues, pop ou jazz. Outro discaço!

Cinco anos depois do segundo disco, a banda aproveitou as imposições de confinamento no período pandémico para dar largas à criatividade. Podemos avançar que o terceiro álbum está todo gravado, feito maioritariamente a partir de live takes). O processo de mistura vai arrancar nas próximas semanas e, devido ao método de captação referido, não deverá enfrentar morosidade. Esteticamente há a intenção de uma sonoridade mais directa, com menos síncopes e mais poder rocker. Depois da saída do vocalista Bruno Tavares, a banda tocou ao vivo com a feroz vocalista Diana Silveira. Fica a questão se o novo álbum já a terá a assumir as vozes de forma exclusiva ou se terá vozes de todo…

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