Sunn

Breve História dos Amplificadores Sunn e do Model T

Surgidos no seguimento de um dos maiores sucessos de sempre da música popular, os amplificadores Sunn foram uma referência a partir da última metade da década de 60, até ao declínio da década seguinte. Ganharam estatuto de culto nas duas últimas décadas e vão ressurgir já em 2023.

A história dos amplificadores Sunn remonta ao início dos anos 60, do século passado e aos The Kingsmen, banda de Portland, Oregon, que em 1963 atingiu o estrelato com a canção “Louie, Louie”, que de resto se tornaria um dos maiores clássicos da música popular…

O super single catapultou a banda para uma digressão através do território norte-americano. Todavia, os músicos, que passaram a carreira a tocar em pequenos bares ou em “proms”, não tinham equipamento capaz de suportar “estrada” e, particularmente, a falta de potência de amplificação de baixo de Nord Sundholm era gritante. Por isso, o baixista pediu ajuda ao seu irmão, Conrad Sundholm, para desenhar um amp de maior potência.

Quando, em 1964, os irmãos desenvolveram o seu amplificador de baixo de alta potência, não imaginavam que tinham em mãos um titã sónico que faria estremecer até os palcos mais “extremos” do underground musical e se tornaria alvo de culto nas liturgias do drone, sludge, doom ou crust.

De resto, devido ao seu enorme poder sonoro, desde cedo o amp dos irmãos Sundholm começou a ser intensamente procurado e o volume de produção ultrapassou a capacidade de fabrico artesanal na garagem da família. Assim, em 1965, foi fundada a Sunn Musical Equipment Company.

Circuito & Model T

O que tornou os amps de Conrad Sundholm tão especiais foi algo bastante simples. Basicamente, Conrad limitou-se a modificar um design existente, tendo acrescentado um estágio pré-amp ao amplificador do sistema hi-fi Dynaco Mark III e ligar o circuito a uma enorme coluna, com dois altifalantes 15’’ JBL. O circuito do Dynaco Mark III é simples. Trata-se de um amplificador de voltagem pentódica ligado directamente a um inversor de fase catódico, que excita as válvulas de forma bastante estável.

Sigam o hyperlink se pretenderem consultar o esquema do circuito de um Model T.

Esta é a base que originou todos os amps clássicos Sunn. Incluindo o famoso Model T. Este modelo surgiu quando o circuito dos amps Sunn foi remodelado com o acréscimo das devastadoras válvulas 6550, capazes de um poder descomunal, às quais foi associado um transformador ultra linear. Estas unidades, numa opção pouco comum até aos anos 70, trabalhavam com a corrente quiescente da válvula. A corrente magnetizava o núcleo, fazendo-o trabalhar próximo da saturação e gerar um headroom limpo e uma distorção brutal.

Assim se explica a tremenda capacidade de definição e dimensão do low-end dos Sunn e do Model T, do início dos anos 70, que é uma “cópia” de um Plexi, com 150 watts de músculo, ganhando em headroom, devido ao transformador e ao circuito pentódico de válvulas 6550. Afinal, o próprio Jim Marshall inspirou os seus amps nos ’59 Bassman.

A Fender acabaria por comprar a marca nos anos 80 e recriou mesmo o Model T. Contudo, na entrevista com Stephen O’Malley, o músico diz-nos peremptoriamente que estes amps «não são Model T, são outra coisa qualquer». Uma coisa mais próxima de modelos Fender Bassman do que os Model T originais estavam. De resto, mesmo a segunda geração dos Sunn Amps Model T, a meio da década de 70, já perdia por comparação no crunch dos primeiros.

Um modelo bem famoso, restaurado, surgiu em 2014 no eBay – uma unidade vintage de primeira geração que pertenceu a Eddie Van Halen. O guitarrista comissionou a Techno Empire para vender algum do seu arquivo de gear, atolado no estúdio 5150, e aí encontrava-se uma unidade que Eddie comprou a Danny Christensen, no seguimento da digressão deste com Rod Stewart em “White”, daí a pintura do amp, que estava integrado num palco com o backline todo pintado de branco.

Glória, Ruína & Culto

Os Sunn passaram pelos rigs de Hendrix, The Who, Led Zeppelin e de quase todos os heróis do rock clássico, num ou noutro momento. No entanto, há quem menospreze os amps por se limitarem a ser leviatãs de volume, sendo pouco versáteis e com uma articulação algo reduzida. Fosse devido a isso, à invasão de amplificadores britânicos Classe A de alta potência, como os Hiwatt, Marshall ou Orange, ou a Sunn Musical Company Equipment ter adoptado a crença na visão de que os circuitos a válvulas se tornariam obsoletos, mudando de filosofia a meio dos anos 70, começando a criar unidades solid state, os amps Sunn foram caindo no esquecimento. A Fender, que nos anos 80 comprara a marca, desactivou mesmo a produção dos amplificadores, em 2002.

O seu ressurgimento é, essencialmente, resultado do imenso poder sonoro criado por Greg Anderson e Stephen O’Malley. Primeiro, separados, em Khanate ou Burning Witch e Goatsnake, e depois quando se juntaram para criar o drone doom colossal a que deram o nome Sunn O))) – como tributo aos amps da marca que perfazem a sua parede de amplificação, além da referência aos Earth (“Sunn Amps and Smashed Guitars”).

Apesar de terem sido descontinuados, terem recebido o estatuto de lenda, e do hype gerado pelos Sunn O))), os amplificadores não são caros e podem ser encontradas unidades vintage a preços aceitáveis. O maior problema é a sua escassez deste lado do Atlântico e os custos alfandegários. O seu poder é inquestionável e a manutenção que exigem, essencialmente a atenção permanente aos filtros de alta voltagem, está facilitada pela oferta de componentes no mercado actual.

SUNNRISE

No primeiro dia de Agosto de 2023, como atempadamente noticiámos, a Fender e a Mission Engineering anunciaram o impressionante regresso dos amplificadores Sunn. Prevê-se que novos modelos e acessórios estejam disponíveis até ao final de 2023. E ainda assim, talvez o mais surpreendente nesta ressurreição seja o facto de ter demorado tanto tempo.

A Fender diz que estava à espera da «equipa e os recursos certos» antes de tomar uma decisão em relação aos Sunn. No ano passado, isso aconteceu, com a Sunn Amplification Corporation a fabricar amplificadores Sunn sob licença especial nos EUA. James Lebihan, CEO da Sunn Amplification, lidera uma equipa que há muito esperava por este momento.

«Ressuscitar a marca Sunn há muito que é um sonho da nossa equipa e estamos entusiasmados por sermos o parceiro de confiança que a Fender seleccionou para dar vida a esta visão», afirmou Lebihan. «Temos a honra de ter um grupo robusto de entusiastas da Sunn, incluindo alguns dos funcionários originais, a juntarem-se a nós nesta viagem para restaurar os Sunn Amps para músicos de todo o mundo. Se conhecem a marca Sunn e o significado histórico que tem na indústria musical, compreendem porque é que o mundo precisa dela de volta».

Poucos detalhes foram partilhados quanto aos produtos que estarão disponíveis, mas a Fender e a Mission Engineering prometeram uma gama completa com preços entre os 499 e os 3.299 dólares, com «reproduções históricas» acompanhadas por novos designs «que incorporam tecnologia moderna para satisfazer as necessidades dos músicos de hoje». Isto pode significar qualquer coisa, desde o aumento/divisão de potência até a emuladores de colunas integrados para gravação directa.

Veremos como continua esta história…

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