Billy Gibbons e Matt Sorum, o guru dos ZZ Top e a locomotiva da era Use Your Illusion dos Guns N’ Roses, juntos em estúdio, de improviso, a tocar em instrumentos bastante peculiares. Eis a sessão completa e a história de como tudo começou, com a Cardboard Stratocaster.
Estávamos no final de 2015 e a Fender Custom Shop decidiu inspirar os maníacos DIY e mostrar que não é preciso madeiras de luxo para construir uma guitarra. Em conjunto com a empresa Ernest Packaging, a Fender Custom Shop desenvolveu uma guitarra bem peculiar: uma Custom Shop Stratocaster com o corpo em papelão. Isso mesmo, com o material que usamos para enfiar discos ou livros nas mudanças, ou que atiramos, em catadupa, para reciclagem após o Natal.
Claro, há coisas deste género, como as cigarbox, mas uma perfeitamente funcional Stratocaster foi um feito assinalável! Nas oficinas da Ernest Packaging foi feito o design do corpo, com o recorte inspirado nas Strats dos anos 50. O papelão usado não recebeu nenhum tratamento específico. O seu processamento é o mesmo de qualquer papelão usado no dia-a-dia. E o som? O Master Builder Paul Waller foi o responsável. O luthier recebeu o corpo e o braço já produzidos no referido material e modelou-o para acolher pickups, circuito e hardware como qualquer outro modelo Custom Shop.
Este modelo é único. Não foi construído para entrar em linha de produção e ser colocado à venda num futuro próximo. Podem acompanhar o processo de construção e o som da Ernest’s Cardboard Stratocaster no documentário publicado, na altura, no Youtube.
Depois do sucesso da iniciativa, a Ernest Packaging dedicou-se a usar o mesmo material para criar um Fender Precision e também uma bateria. Na verdade, na sua essência o papel é madeira e ainda que não possa reconstruir as características tímbricas da madeira, quando novamente condensando recupera alguma da sua massa, eventualmente.
Músicos, luthiers, engenheiros de som. Todos concordam que o Som está nas “mãos”, que, em última análise, é a expressividade de cada um que cria o seu timbre de assinatura. É verdade, não? Depois, muitas vozes, principalmente no que refere à guitarra eléctrica, referem que muito do som deriva dos pickups utilizados e que a madeira não tem tanta influência naquilo que se ouve. Mas, naturalmente, a madeira do instrumento tem características que não podem ser contornadas. Também aqui há algo de mágico, pois as mesmas madeiras podem sofrer imensas variantes (designs diferentes, misturas de madeira diferentes, melhor ou pior envelhecimento, secagem, etc.) que fazem com que dois instrumentos não sejam iguais, tal como dois músicos. Por isso a procura pela guitarra ou o baixo ideal pode levar anos.
Recentemente, Paul Reed Smith, um dos mais importantes luthiers vivos, fundador da PRS Guitars, deixou a sua opinião sobre o debate acerca da importância das madeiras usadas na guitarra eléctrica e o quão relevantes podem ser as suas características tonais no momento de escolher que instrumento tocar.
Cardboard Sessions
Com o trio de instrumentos mais clássicos na música pop/rock, surgiram então as Cardboard Sessions. Nesse espaço, vários músicos de diferentes latitudes roqueiras juntam-se parar tocar umas malhas com os instrumentos de cartão, malta como os Rage Against The Machine, Jon Theodore (QOTSA), J Mascis ou Dale Crover.
No episódio mais recente, Billy Gibbons e Matt Sorum deslocaram-se ao Goodnoise Studio, em Palm Springs, na Califórnia, para gravar uma sessão Cardboard, sem ensaios prévios. Qualquer um deles dispensas grande apresentação.
Billy Gibbons, o lendário guitarrista blues-rock e líder dos ZZ Top, é um homem de estilo distinto, tanto na sua música como na sua personalidade. Com os seus riffs de guitarra ardentes, o seu som de blues e o seu estilo distinto, influenciou inúmeros músicos e cativou audiências em todo o mundo. Por isso, quando Billy Gibbons surge com uns riffs que pensou especificamente para a Cardboard Sessions, sobre a já referida guitarra de cartão, entra a matar!
Matt Sorum é um baterista excepcional cujo estilo poderoso e dinâmico foi a base dos Guns N’ Roses, entre muitas outras bandas que todos nós disparámos nas nossas colunas ao longo dos anos. Apreciem esta malha escrita de improviso, na verdadeira forma do blues, com duas lendas absolutas.