Tonewoods, Um Guia

Um guia com os traços gerais, principais características e as diferenças das tonewoods – as madeiras mais comuns na construção de guitarras e baixos eléctricos.

Músicos, luthiers, engenheiros de som. Todos concordam que o Som está nas “mãos”, que, em última análise, é a expressividade de cada um que cria o seu timbre de assinatura. É verdade, não? Depois, muitas vozes, principalmente no que refere à guitarra eléctrica, referem que muito do som deriva dos pickups utilizados e que a madeira não tem tanta influência naquilo que se ouve.

Mas, naturalmente, a madeira do instrumento tem características que não podem ser contornadas. Também aqui há algo de mágico, pois as mesmas madeiras podem sofrer imensas variantes (designs diferentes, misturas de madeira diferentes, melhor ou pior envelhecimento, secagem, etc.) que fazem com que dois instrumentos não sejam iguais, tal como dois músicos. Por isso a procura pela guitarra ou o baixo ideal pode levar anos. O músico e aficionado da guitarra eléctrica Dave Hunter, foi já colaborador de publicações como a Guitar World ou a Guitar Player, trabalhou também de perto com a Gibson e com a Fender (é o autor de “The Fender Telecaster: The Life and Times of the Electric Guitar That Changed the World”) tem escrito imenso sobre o assunto.

Deixando de lado as mais exóticas, como koa ou bubinga, resumimos algumas das noções de Dave Hunter e revemos as madeiras mais comuns nos instrumentos solidbody e hollowbody e as suas principais características…

ALDER (“amieiro”) | Falar nesta madeira é falar na Fender. A marca criada por Leo Fender foi a primeira a usar alder no final dos anos 50 e 60. É uma madeira de peso médio e possui um som forte e encorpado, com bons médios e um óptimo corpo de graves. Não é tão controlada nos agudos, mas também não é desagradável. O sustain desta madeira não é muito prolongado, pelo menos se colocado lado a lado com outra madeira clássica da Fender: a ash. Não é inédito que o alder suja numa mistura de madeiras, mas é mais usual ser usada como a única madeira do corpo.

★★★★★

ASH (“freixo”) | Antes de alder, ash era a madeira usada nas guitarras Fender dos anos 50. É mais procurada na espécie swamp ash – a madeira obtida em regiões pantanosas, de árvores com as raízes abaixo do nível da água. É uma madeira brilhante e com boa ressonância. Os graves são firmes quanto baste, os médios abafados de forma ténue e os agudos muito bonitos. O sustain é bastante bom. Se a madeira for cortada das partes superiores da árvore, ou mesmo de outra região, tende a ser mais densa e pesada. Tende também a ter um som mais brilhante e duro.

★★★★★

MAHOGANY (“mogno”) | A par de maple, o mogno é um dos grandes clássicos no corpo de uma guitarra, quer em placa única quer em misturas laminadas, além de ser muito comum em braços também. As Gibson Les Paul Jr., Les Paul Special e SG clássicas são construídas em peças únicas de mogno, com braços da mesma estirpe. É uma madeira bem densa e pesada. O seu som é bastante quente e suave, com um balanceamento considerável. A sua característica mais aclamado será a profundidade do som, com graves ressoantes que não anulam o brilho dos agudos.

★★★★★

WALNUT (“nogueira”) | Além da tipologia mais comum, também é recorrente usar-se o red walnut ou o black walnut na construção de guitarras. Muito similar ao mogno, com peso e densidade. O som também é quente e há luthiers que dizem ter um grave mais firme e maior definição que o mogno. Tal como essa madeira, também é muito recorrente em misturas com maple.

★★★★★

MAPLE (“bordo”) | O “carvalho” do norte da América do Norte, a sua folha surge mesmo na bandeira do Canadá. É uma madeira densa, dura e pesada. É usada no corpo e nos braços em misturas, onde é “casada” com uma segunda madeira mais leve. Existem corpos apenas em maple, mas o seu peso é mesmo tremendo. Tem um som extremamente brilhante, devido à sua dureza, com poucos graves e uma precisão enorme. Aliás, essa é a sua função (precisão/definição) quando é misturada com outros madeiras no corpo de um instrumento. A mistura maple/mahogany é a mais consagrada, com o maple a surgir como a peça de topo (exemplo da imagem em cima).

★★★★★

BASSWOOD (“tília”) | Esta madeira é mais recorrente em modelos de média e baixa gama, pois é uma madeira abundante, e consequentemente menos cara. Não significa isso que não seja uma boa madeira e também usada em modelos mais caros. É bastante leve e macia. O seu som é bastante encorpado, mas bem balanceado, com médios bem pronunciados. Os agudos são brilhantes e os graves suaves.

★★★★★

KORINA (“limba”) | Nos anos 50, quando a Gibson criou as lendárias Flying V e Explorer, esta era a madeira tropical usada. É uma madeira com um som quente, com boa ressonância e bem balanceada. Possui bastante definição e sustain, além de um som com bom brilho. Da família do mogno (a madeira usada, predominantemente, nos modelos clássicos da Gibson), é mais leve que essa espécie.

★★★★★

ROSEWOOD (“palissandro”) | Há alguma abundância de violas e guitarras acústicas, mas poucos instrumentos eléctricos solidbody com esta madeira. Todavia, uma das excepções é extremamente notável – entre 1969 e 1972 a Fender fabricou algumas Rosewood Telecaster e George Harrison usava frequentemente um desses modelos. Todavia, esta madeira é uma escolha recorrente para os fretboards e também é bastante usada em semi-acústicas, geralmente com outra madeira como tampo. O seu som é bem duro e muito, muito brilhante, daí ser usada abundantemente como tábua de escala, pois permite definição e velocidade.

CITES

Em Janeiro de 2017 a lei CITES entrou em vigor, estabelecendo várias restrições às rotas comerciais da madeira rosewood. E ainda que as reservas armazenadas pelos maiores fabricantes não deixem que esse factor se tenha sentido muito nestes anos, têm surgido de forma clara os primeiros efeitos dessa legislação. Desde logo, ainda em Maio desse ano, a Fender anunciou que iria reduzir drasticamente o uso dessa madeira nos seus instrumentos.

Na altura, num trabalho para a AS, tivemos oportunidade de visitar a fábrica de Corona (na antecâmara da Winter NAMM e na altura da implementação da nova lei) onde nos foi revelado oficiosamente que a marca iria respeitar criteriosamente a nova legislação. Então, meses depois e em comunicação oficial, foi anunciado que a maioria das guitarras e baixos construídos no México e também os modelos American Elite da altura deixariam de ter escalas em rosewood. Os modelos mexicanos passaram a usar maioritariamente o pau-ferro, uma madeira com semelhanças ao rosewood e anteriormente utilizada na Stratocaster, numa das versões de assinatura de Stevie Ray Vaughan. Enquanto os modelos americanios adoptaram na sua maioria o ébano.

Andy Mooney, CEO Fender, foi o porta-voz do comunicado oficial da marca nessa altura: «A Fender pretende continuar a utilizar o rosewood em guitarras solidbody norte-americanas, tal como sucede na gama American Professional. (…) O rosewood ainda é usado em várias gamas de instrumentos, até porque está historicamente comprovada como uma madeira com definição sonora. A mudança irá ser feita em coordenação fluída com o mercado; não há uma data estabelecida. Ainda avaliamos opções para a Squier e para os modelos acústicos. As marcas FMIC, como a Gretsch, Jackson, Charvel e EVH, continuarão a utilizar o rosewood nos seus modelos solidbody e acústicos, em todos os países. A Fender está empenhada, enquanto marca, a cumprir todas as regulamentações CITES e em assegurar que continuará a providenciar a melhor qualidade e acessibilidade de produtos aos seus clientes e distribuidores».

Mais marcas e mais madeiras vão “sofrer” com esta legislação. Quando as reservas armazenadas (que não permitem ainda alarmismos) começarem a baixar, novas madeiras começaram a emergir. Não será sequer a primeira vez que isso sucede.

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