Imperial Triumphant, Spirit Of Ecstasy

“Spirit Of Ecstasy”, o soberbo quinto álbum dos Imperial Triumphant, é um delírio de fusão entre jazz e black metal, executado por músicos de elite. Um vibrante retrato de Nova Iorque em “O Grande Gatsby”, de Scott Fitzgerald, misturado com o horror sobrenatural de Lovecraft.

“Abominamentvm” (2012) ou “Vile Luxury” (2018) são discos maiores numa discografia que, até à selagem da Century Media, era inatacável e foi com esse estatuto que os Imperial Triumphant se estrearam no SWR, em 2019 – foi no irredutível festival minhoto que os vimos ao vivo pela primeira vez.

“Alphaville” (2020) criou as primeiras reticências em torno dos músicos, mas olhando em retrospectiva isso terá mais que ver com o choque da banda com um público maior e menos com a sua criatividade. Talvez a latente profanidade tenha sido ofuscada por uma produção mais polida, mas os nova-iorquinos adaptaram-se rapidamente e “Spirit Of Ecstasy” (2022) é mais uma obra-prima de demência e caos.

Termos como avant-garde e free jazz são usados a torto e a direito, mas circunscrever a capacidade musical dos Imperial Triumphant a esses chavões genéricos raia a blasfémia. Não há experimentação e a cacofonia é apenas aparente. O que este álbum revela, uma vez mais é uma macabra exactidão matemática nas baterias, pejadas de fills que quase só saem de cena para os momentos de blast, pontuadas por um insano e ininterrupto duplo bombo.

A execução frenética das escalas pelo baixo, a colagem harmónica que faz entre o ritmo e os cromatismos dissonantes das guitarras, cria uma atmosfera de horror e demência inigualável. Então os acordes e os leads das guitarras em intervalos e modos de escala ‘estranhos’, mais os preenchimentos melódicos dos coros ou dos metais, são a coroação de uma capacidade triunfal de (para lá do jazz ou do metal) fazer música.

“Spirit Of Ecstasy” teve edição a 22 de Julho de 2022, novamente com o selo da Century Media Records e entre os convidados surgem o antigo guitarrista da banda Max Gorelick e Kenny G – exacto, o excelente saxofonista do smooth jazz adora – como se pode verificar no verdadeiramente impressionante vídeo-single desse malhão que é “Merkurius Gilded”. Mas a lista prossegue com outros nomes como Alex Skolnick, Trey Spruance, Andromeda Anarchia, Sarai Woods, Yoshiko Ohara, J. Walter Hawkes, Ben Hankle, Percy Jones ou Colin Marston.

Os loucos anos 20 nova-iorquinos são uma referência conceptual óbvia, pelo meio somos surpreendidos com acenos aos Van Halen (nas baterias de introdução a “Chump Change”); por horror ‘lovecraftiano’ e bad trips de heroína que surgem, por exemplo, entre o frenesim desses anos dourados da tecnologia em torno da Exposição Universal de 1889 e o fim da Grande Depressão com a construção do Empire State (nesse épico que é “Tower Of Glory, City Of Shame”); os intensos anos 70 do jazz no instrumental “In The Pleasure Of Their Company” e o colosso blackened death metal com Snake (Voivod), “Maximalist Scream”.

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