Jeff Beck Mods

Como criar réplicas e recriar os circuitos de três das guitarras mais icónicas de Jeff Beck, nomeadamente a Tele-Gib e a Esquire, construídas pelo seu amigo Seymour Duncan, e a sua Stratocaster de assinatura.

À boleia de Dirk Waker, investigam-se os pormenores dos circuitos e das modificações do lendário shredder, o grande e saudoso Jeff Beck, através de uma vista de olhos mais aprofundada ao seu arsenal de guitarras e analisando como se pode chegar perto… Electricamente, pelo menos.

10 de Janeiro de 2023, quando Jeff Beck faleceu aos 78 anos de idade devido a uma infecção de meningite bacteriana, foi um dia de imensa tristeza. Beck foi, sem sombra de dúvida, um dos melhores guitarristas de sempre, influenciando inúmeros músicos em todo o mundo com o seu som e estilo únicos. Portanto, será escusado mencionar que usar o mesmo equipamento não vai fazer com que alguém soe como Jeff Beck – a sua técnica na guitarra é quase inalcançável. Mas pode ajudar a soar mais próximo do som de Beck, por isso vamos dar uma olhadela a algumas das suas guitarras mais importantes.

E quando falamos das guitarras de Jeff Beck, estamos também a falar do mestre dos pickups, Seymour Duncan, que era um amigo próximo do guitarrista. Duncan é o cérebro por detrás de muitas das guitarras que Jeff Beck tocou durante a sua notável carreira. Eis as três mais peculiares…

Tele-Gib

Esta é a guitarra que iniciou a amizade duradoura entre Beck e Duncan em 1974, quando Duncan estava a trabalhar em Londres como técnico de guitarra na Fender Soundhouse (a Fender Soundhouse era uma loja enorme em Londres durante os anos 70). Em 1974, estava Beck a gravar nos estúdios da CBS, perto da Soundhouse, Duncan restaurou uma Fender Telecaster de 1959. Para combinar o melhor dos dois mundos, instalou dois humbuckers PAF rebobinados, resgatados de uma Gibson Flying V de 1959 escavacada que pertencera ao guitarrista Lonnie Mack. Como a Telecaster não tinha tampo curvo como a Les Paul, foram instalados em estruturas de humbucker planas e brancas. E como a ponte original da Telecaster se perdera, Duncan instalou uma tailpiece stop-bar da Gibson e uma ponte ABR-1. Duncan apresentou a Beck esta Telecaster top-loader e ele apaixonou-se imediatamente por ela. O resto é história, como se costuma dizer.

Construir uma cópia desta guitarra é muito mais fácil nos dias de hoje do que em 1974. É possível encomendar um corpo de Telecaster com dois humbuckers sem qualquer problema. Isso nem sequer era concebido no início dos anos 70, por isso Duncan teve de trabalhar muito nesta guitarra. Encontrar um pickguard com recortes para humbucker também não é um grande problema actualmente. Se quiserem aproximar-se desta guitarra, devem escolher um corpo Telecaster feito de ash (freixo) ou swamp ash e um braço de maple (bordo) de peça única. Também precisam de uma ponte ABR-1 e uma placa de controlo Telecaster normal, com master volume, master tone e um selector de pickups de 3 vias. Podem escolher qualquer cópia de humbuckers PAF que se aproxime das especificações de ’59 – um circuito normal de dois condutores será suficiente.

Na guitarra original, os pickups não têm uma cobertura metálica, expondo as bobinas. É importante instalar os PUs desta forma (sem revestimento), para maior aproximação ao som. Duncan utilizou potenciómetros de 500k para o volume e para o tone, além de um capacitador de tone de 0,047uF e um circuito normal de 3 vias da Telecaster: ponte/ponte + braço em paralelo/braço. Podem utilizar qualquer diagrama de circuito normal da Telecaster para este efeito – um circuito de uma Telecaster com dois humbuckers – sem divisão, sem comutação em série, sem faseamento ou quaisquer outros truques. Naturalmente, pode ajustar-se o circuito a gosto e implementar algumas modificações e complementos. Beck adorava a guitarra tal como estava, por isso nunca a modificou.

Jeff Beck Stratocaster

O desenvolvimento da Jeff Beck Stratocaster remonta a 1986 e prolongou-se por vários anos. Em 1991, a primeira série da Jeff Beck Stratocaster estava disponível – uma versão mais ou menos actualizada da Strat Plus, com um corpo em alder (amieiro), um braço com perfil “C” pronunciado com uma escala em rosewood (palissandro); uma pestana “roller” da Wilkinson (substituída em 1993 por uma roller da LSR), afinadores de bloqueio Sperzel (substituídos em 1994 por unidades Schaller), um tremolo de dois pontos; single-coils Lace Sensor Gold e um humbucker Lace Sensor Dually na ponte – com um circuito de tone TBX que afecta os PUs do meio e da ponte, mais um botão push-push mini coil-split para o humbucker.

Em 2001, a guitarra foi actualizada com pickups Fender Hot Noiseless e um controlo de tone clássico, um tróculo arredondado e afinadores de bloqueio. Em 2004, a Fender Custom Shop lançou a Jeff Beck Signature Stratocaster com especificações quase idênticas às da série de 2001. Beck também tocou noutras Strats ao longo dos anos – demasiadas para as enumerar. De resto, o guitarrista nunca foi tímido a revelar o seu amor por este design.

Todos os materiais necessários para construir uma cópia das duas versões acima mencionadas estão facilmente disponíveis actualmente. O circuito da segunda versão é o normal de uma Stratocaster com um switch de 5 vias, volume principal e dois controlos de tone. O circuito muito especial da primeira versão assemelha-se ao de uma Fender Strat Plus.

Jeff Beck Esquire

Alguns dias depois de Seymour Duncan ter oferecido a Beck a híbrida Tele-Gib, em 1974, o empresário do guitarrista apareceu na Soundhouse com uma mistura de três corpos de guitarra e três braços, dos quais Beck queria que Duncan escolhesse um par como prenda. Duncan escolheu uma Esquire e começou a “remontar” o instrumento. A Fender Esquire (número de série 1056) era de 1954 e foi a guitarra que Beck tocou durante a sua passagem pelos Yardbirds, em 1965 e 1966. Pode ouvir-se esta guitarra nas malhas “Heart Full of Soul”, “Train Kept a-Rollin’” e “I’m a Man”.

A guitarra sofreu algumas modificações, a mais óbvia das quais no corpo. Foi lixado e arredondado na frente e atrás como uma Stratocaster, expondo a madeira nua em alguns pontos. O braço original também foi trocado por qualquer razão – quando Duncan recebeu a guitarra, tinha um braço de 1956. Não se sabe ao certo se a Esquire já estava modificada quando Beck a comprou em 1964 ou se o próprio Beck a modificou. As características básicas desta guitarra são um corpo em ash (freixo) com acabamento Blonde, um braço numa peça singular de maple (bordo), com perfil “V” suave, pickguard Bakelite preto, um pickup Fender original de 1954 e hardware padrão Esquire/Telecaster. O peso da guitarra não ultrapassava 2,5 kg.

Construir uma cópia não deve ser um problema. A guitarra original ainda pertence a Seymour Duncan e está exposta no Rock & Roll Hall of Fame, excatamente no mesmo estado em que se encontrava em 1974. Outra modificação interessante é o circuito desta guitarra, com potenciómetros de volume e tone de 250k e um selector tradicional de 3 vias para o pickup único da ponte. Na Esquire de Beck, o selector de 3 vias é ligado da seguinte forma:

1) Controlo de volume apenas com um capacitador, sem controlo de tone; 2) Controlo de volume com um capacitador e controlo de tone com o seu capacitador de tone; 3) Controlo de volume apenas, sem capacitador e sem controlo de tone

É uma espécie de fiagem intermédia entre o circuito original Fender Esquire e o que mais tarde ficou famoso como “Eldred wiring”. Infelizmente, não se sabe qual é a capacitância dos dois caps. Diz-se que tem um capacitador de tone de 0,05uF e um capacitador de 0,003uF em linha com o pickup, o que parece plausível. As versões modernas terão 0,047uF e 0,0033uF, mas funcionarão bem.

Este é um artigo de Dirk Wacker, originalmente publicado na Premier Guitar.

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