Jeff Beck morreu, vítima de meningite bacteriana. O guitarrista, um dos melhores de sempre, tinha 78 anos de idade.
Jeff Beck, um dos maiores guitarristas na história da música rock, morreu no passado dia 10 de Janeiro de 2023, aos 78 anos de idade. «Em nome da sua família, é com profunda tristeza que partilhamos a notícia da morte de Jeff Beck. Depois de ter contraído subitamente uma meningite bacteriana, faleceu pacificamente ontem. A sua família pede privacidade enquanto processa esta tremenda perda», lê-se num comunicado publicado já no dia 11 de Janeiro (cerca das 22h em Lisboa) no Facebook oficial de Jeff Beck.
Nascido no dia 24 de Junho de 1944, Jeff Beck é um dos mais underrated de sempre e últimos grandes heróis da guitarra. Guitarrista de técnica absolutamente singular, deslumbrou o mundo desde ainda antes da explosão do hard rock, há mais de meio século. Desde o R&B dos The Yardbirds, ao Jeff Beck Group com Ronnie Wood e Rod Stewart, até à obra-prima de jazz/rock instrumental “Blow By Blow”, e um infindável número de aparições como músico convidado (Mick Jagger, Roger Waters, Brian May, Paul Rodgers, Stevie Wonder, Tina Turner, Jon Bon Jovi) e até uma ou outra incursão em blockbusters de Hollywood, Jeff Beck esteve constantemente a explorar e a fazer progredir a sua linguagem musical e a da guitarra eléctrica, mais especificamente da Stratocaster.
Precisamente, numa entrevista com Johnnie Walker, para o programa Sounds Of The ’70s, na Radio 2, o músico expressou genuína incredulidade pelo facto de a guitarra eléctrica ter chegado tão longe na cultura pop desde as suas origens rock ‘n’ roll dos anos 50. «Foi um rocket propulsionado desde ’54 até aos dias de hoje. Nunca pensei que a guitarra se sustivesse durante tanto tempo e que toda a gente no mundo soubesse o que é uma Stratocaster», referia Beck. É tudo um ciclo, afinal. E da mesma forma que Jeff Beck se inspirou em músicos como Les Paul, Buddy Holly, Scotty Moore e Cliff Gallup, despertou posteriormente a imaginação das gerações seguintes como um dos executantes mais expressivos de sempre a pegar numa guitarra – primeiro uma Telecaster, depois uma Les Paul e, por fim, a sua enorme paixão, a Strat. «Faz o que eu quero. É infinitamente variável no seu som e capacidades, com a ponte de molas. Foi feita à medida para mim – muito obrigado, Leo!»
Hoje em dia é difícil imaginar que tenha havido um tempo sem distorção na guitarra. Beck foi um dos primeiros a adoptar o rock ‘n’ roll na cena do início dos anos 60 em Londres. Mas nada foi planeado. «Foi acidental. Tocámos em salas grandes ali nos anos ’64/’65 e o PA era inadequado, por isso subimos o volume ao máximo e descobrimos que o feedback seria a consequência. O Pete Townshend descobriu-o e usou-o em “My Generation” e depois comecei a usá-lo porque era controlável – podias tocar melodias com o feedback. Fiz isso uma vez, no Staines Town Hall, com The Yardbirds. E no fim a malta diz-me: ‘Sabes aquele barulho engraçado que não era suposto ouvir-se? Se fosse a ti, ia ver disso’. E eu disse: ‘Foi intencional – desapareçam’».
O guitarrista ganhou proeminência quando coabitou com Eric Clapton nos Yardbirds – juntos gravaram os álbuns For Your Love (1965) e Having a Rave Up (1965). Quando saiu da banda, deixou uma Telecaster como legado a Jimmy Page (que o substituiu) e foi fundada outra das maiores fábulas do rock ‘n’ roll! No final da década de 60 fundou o seu Jeff Beck Group, cujo álbum de estreia, Truth (1967) foi um breakthrough imediato, muito devido a esse clássico que é “Beck’s Bolero”. A primeira encarnação desse grupo contava com Ronnie Wood na guitarra ritmo e Rod Stewart na voz, como referido atrás. Mas foi quando o projecto se tornou principalmente instrumental que encontrou um baterista e um amigo para a vida, o saudoso Cozy Powell.
Foi Beck que recordou o seu primeiro encontro: «Estava a fazer uma audição para bateristas e cheguei atrasado. Quando finalmente cheguei, havia 15 kits de bateria montados e um kit de duplo bombo num brilhante vermelho. Perguntei à minha assistente: ‘De que canalha vistoso é aquele kit, ali?’ E ela respondeu: ‘É do tipo que queres’. Disse-lhe: ‘Deixa-me ouvi-lo primeiro e depois vemos se assim será’. Tocámos juntos durante cerca de um minuto e podia ver-se todos os outros bateristas a arrumar os seus kits. Ele era feito para o papel, além de ser o papel. O Cozy tinha a imagem e tocava muito bem. A partir desse momento, construímos uma enorme amizade. O seu ídolo era John Bonham, e eu acho que ele era o meu John Bonham».
A forma inovadora como o shredder desenvolveu a sua técnica limpa, sem palhetada, num dinâmico controlo do volume e tone da guitarra e uma inigualável assinatura sónica no uso do vibrato, permanecem sem paralelo. Já nos anos 80, foi um dos pioneiros da fusão da guitarra com a electrónica, com o MIDI. A morte de Jeff Beck, pela forma súbita como sucedeu, é um choque e, a longo termo, é uma perda irreparável. Aos familiares, amigos e fãs juntamos o nosso pesar.
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