Geezer Butler numa reflexão sobre algumas das suas letras e, em particular, a figura de Cristo como base para o Iron Man dos Black Sabbath.
O baixista dos Black Sabbath, Geezer Butler, fala sobre como o termo “heavy metal” foi inicialmente usado como uma forma depreciativa e sarcástica de descrever a música da banda, antes de ser cunhado como o nome oficial de todo um género musical. Em entrevista no podcast de Eddie Trunk, Geezer Butler, um dos fundadores dos Sabbath e, consequentemente do heavy metal, reflectiu sobre como acredita que o termo surgiu. Afirmando que o rótulo surgiu no início da década de 1970, o baixista estima que a expressão foi usada exclusivamente nos Estados Unidos como uma forma de insulto, dizendo que os Black Sabbath acabaram por ficar «cunhados assim».
«Quando estávamos em digressão na América – acho que foi durante a segunda digressão nos Estados Unidos – li uma crítica e o tipo dizia: ‘Isto não é música; parece um monte de heavy metal a ser esmagado’. De alguma forma, isso chegou a Inglaterra e, a partir daí, tornou-se um tipo de sarcasmo que costumavam aplicar-nos – ‘isto não é música, é um monte de heavy metal a ser esmagado’. E, por alguma razão, ficámos presos a isso», recorda Geezer.
Embora a intenção original fosse desconsiderar a banda, Butler infere que os membros passaram a sentir orgulho no rótulo, que eventualmente distinguia o seu som de outros grupos da altura. No entanto, esta está longe de ser a primeira vez que as origens do termo foram postas em causa; apenas para citar um exemplo, muitos creditam aos Steppenwolf a invenção da frase no seu êxito de 1968, “Born To Be Wild”.
Mais consensual é que há um antes e depois dos Black Sabbath na música. A própria banda foi, sendo grande sucesso, outras bandas: The Polka Tulk Blues Band, Polka Tulk e Earth. Até que a mistura dum clássico de horror da 7ª Arte [“Black Sabbath”, de Mario Bava e com o ícone Boris Karloff] com os escritos do ocultista Dennis Wheatley e um delírio de Geezer Butler, no qual viu uma silhueta negra a olhá-lo dos pés da sua cama, deram origem ao tema “Black Sabbath”, ao álbum do mesmo nome e à maior e mais influente banda de heavy metal de sempre. Como convém a um álbum lendário, “Black Sabbath” (o primeiro disco da banda) foi arrasado pela crítica mainstream da época. O uso do Trítono [um intervalo de escala percorrido por três tons inteiros], a “Nota do Diabo” era pouco recorrente na música presente na Billboard, sendo mais famoso nas peças clássicas de tensão saturada – a mais famosa será, provavelmente, o 1º Movimento da 5ª Sinfonia de Beethoven. Contudo, essa harmonização negra tornou-se a pedra angular a partir da qual se erigiu todo um género musical.
Tudo isto criou uma certa reputação em torno da banda, que passou a ser vista como devota do ocultismo e até do satanismo. Para muitos também isto não podia estar mais distante da verdade. Aliás, canções como a icónica “Black Sabbath” (uma advertência em relação ao uso de magia negra e a confiança no poder redentor divino), “N.I.B” (Lucifer a apaixonar-se pelo bom e o belo), “War Pigs” (quiçá, a maior canção anti-guerra, com as elites beligerantes colocadas diante de Deus, no Dia do Juízo Final) e “After Forever” (anti-religião, mas profundamente espiritual), podem ser interpretadas como uma busca por renascença, em vez do abismo. Todavia, não deixam de ser ambíguas.
Ainda assim, em outro momento da entrevista, o baixista reflecte sobre alguns dos lançamentos de maior sucesso da banda e, notoriamente, descreve as origens pouco conhecidas de um dos seu maiores hinos. Ao descrever a malha de 1970, “Iron Man”, Butler confirmou a mensagem bíblica por detrás da letra – afirmando que a inspiração para o protagonista da canção veio de Jesus Cristo: «Foi mais ou menos baseado em Jesus Cristo. Este indivíduo [o Iron Man] vê-O enquanto ele anda por aí e faz o bem, tenta pregar e acaba por ser crucificado por dizer a verdade». Geezer Butler continua, sobre a malha: «Era o Iron Man a ver o futuro e a voltar para dizer ao mundo como vai ser horrível e as pessoas viram-se contra ele. Mas enquanto Jesus morreu para salvar as pessoas, o Homem de Ferro vinga-se. Essa é a grande diferença».