Led Zeppelin

Led Zeppelin, How the West Was Won

Mais visceral que “The Song Remains The Same” e incomparavelmente mais poderoso que “Celebration Day”. Gravado no auge dos seus poderes, “How The West Was Won” é o álbum ao vivo definitivo dos Led Zeppelin.

O Oeste foi Los Angeles e Long Beach, onde os Led Zeppelin deram dois concertos lendários, gravados com dois dias de intervalo, em Junho de 1972, que foram perfeitamente editados em conjunto para formar um incrível álbum ao vivo. A ordem das 18 faixas segue o alinhamento dessas duas noites, com a única omissão a ser “Tangerine”, do conjunto acústico que termina o primeiro disco (o terceiro disco tem metade do material do encore do concerto de L.A., que aparentemente durou muito mais tempo do que o de Long Beach, incluindo “Louie Louie”, “Thank You” e “Communication Breakdown”). Provavelmente o ponto alto de tudo isto é a monstruosa versão de 25 minutos de “Dazed and Confused”, ainda que o medley de 23 minutos em torno de “Rock and Roll” ande lá perto!

O resultado final é que “How the West Was Won” é um daqueles álbuns em que o facto de ter música inédita dos Led Zeppelin ao vivo foi suficiente para, quando foi finalmente editado em 2003, deixar o universo rocker em polvorosa. Afinal, para uma banda com um legado tão abrangente, o registo oficial das lendárias – e imprevisíveis – actuações ao vivo dos Led Zeppelin até esta edição (que fundou uma revisão desse legado) não era representado muito para além da dispersa banda sonora de “The Song Remains the Same”. Mas este conjunto de três discos ao vivo (captado antes de “Houses of the Holy”) mudou o jogo. Estes concertos assumiram, com razão, um estatuto de culto no mercado das cópias piratas, mostrando uma banda no auge dos seus poderes criativos e técnicos.

Diz Jerry McCulley: «Crucialmente enraizada no blues americano da antiga banda de Jimmy Page, os Yardbirds, a maratona de “Dazed and Confused” e “Whole Lotta Love” (que consomem quase uma hora só entre si) de alguma forma engloba Ricky Nelson, Morocco, James Brown, Holst, Elvis Presley e Muddy Waters no meio do seu sturm und drang característico, enquanto o conjunto acústico que encerra o primeiro disco mostra a boa índole da banda – e particularmente de Robert Plant – e o apelo folclórico cripto-céltico com uma desenvoltura energética. Maior e mais arrojado do que qualquer outra banda de rock que se seguiu na sua esteira histórica, mas sempre fiel às suas inúmeras influências, este colosso que eram os Led Zeppelin ao vivo tem finalmente o monumento que merece».

“How the West Was Won” é mais um testemunho de como os Led Zeppelin sempre se recusaram a subir ao palco para simplesmente tocarem as suas canções da forma como estas apareciam nos seus álbuns. “Whole Lotta Love”, “Dazed and Confused”, etc., foram sempre uma oportunidade para os músicos se entregarem à grande variedade de formas que inspiraram Jimmy Page, John Paul Jones, John Bonham e Robert Plant. É por isso que, quando se ouvem malhas como as referidas atrás, damos de caras com “Boggie Chillun” de John Lee Hooker, “Let’s Have a Party” de Jerry Leiber, “Hello Marylou” de Gene Pitney ou “Going Down Slow” de James B. Oden. Todavia, neste álbum, os Led Zeppelin abraçaram também as referências ao seu próprio trabalho, do mais mediático (“The Crunge”, por exemplo) ao mais obscuro (“Walter’s Walk”). E outras malhas como “Heartbreaker” out “Bring It On Home” são alargadas por improvisação também, salientando os pontos fortes dos titãs britânicos.

Mesmo quando se está ciente das semelhanças entre algumas das canções que estão neste álbum e no “The Song Remains the Same”, há sempre algumas diferenças significativas que nos fazem apreciar a abordagem jam session dos Led Zeppelin às suas canções. Além disso, temos uma versão da única canção que aparece no filme do concerto de “The Song Remains the Same”, mas que não está no álbum, “Since I’ve Been Loving You”, um clássico blues dos Led Zeppelin que talvez nunca tenha sido celebrado da forma que merecia.

A compilação foi feita por Jimmy Page a partir de material que descobriu enquanto procurava nos arquivos material visual e áudio dos Led Zeppelin. Coincidência ou não, nestas duas noites podem ouvir-se alguns dos momentos mais memoráveis do guitarrista, ele que foi sempre o mais errático dos três instrumentistas da banda. O primeiro disco é a verdadeira pérola, com “Immigrant Song”, “Heartbreaker”, “Black Dog”, “Over the Hills & Far Away” e “Since I’ve Been Loving You”, movendo-se para o familiar conjunto semi-acústico dos Zeppelin nos anos 70, que é verdadeiramente sublime: “Stairway” é seguida por “Goin’ to California”, “That’s the Way” e “Bron-Yr-Aur Stomp”, com o místico espectro acústico das 12 cordas de Page e Jones no bandolim. É aqui, acima de tudo, que a alta qualidade das gravações e da mistura brilha, com o equilíbrio perfeito do som a fazer justiça à execução exemplar e destacando-se nitidamente da experiência dos bootlegs, com Plant, em grande forma, a dar uma expressão vocal espantosa a estes grandes números.

No segundo disco, de alguma forma, os notórios excessos de auto-indulgência da banda, em particular, e dos anos 70, em geral, fazem sentir a sua presença, com “What Is & What Should Never Be” e “Dancing Days” ensanduichados entre o medley de 25 minutos de “Dazed & Confused” e “Moby Dick”, de Bonzo. As coisas tornam a ganhar maior foco no terceiro disco, com o já referido medley de “Whole Lotta Love”, a trovejante interpretação de “Rock And Roll”, “The Ocean” (que só seria editada uns meses depois destes concertos, quando chegou “Houses Of The Holy”) e “Bring It On Home”, uma triunfal jam de nove minutos a encerrar este que é, realmente, o álbum definitivo dos Zeppelin ao vivo. Considerando que “The Song Remains The Same” é menos intenso e que “Celebration Day” não tinha como não soar distante da tempestade sónica aqui registada.

Record Store Day 2018

2018 marcou a primeira vez que os Led Zeppelin se associaram ao Record Store Day, acção inserida nas iniciativas de comemoração dos 50 anos da banda britânica, formada em 1968. Na ocasião, os Zeppelin lançaram um 7” de edição limitada, contendo misturas inéditas de “Rock And Roll” e “Friends”, no próximo dia 21 de Abril.

A remistura de “Rock And Roll” abriu mais um pouco a cortina sobre as célebres sessões “Sunset Sound Mixes”, de 1971, dedicadas ao quarto álbum dos Led Zeppelin. Dessas sessões apenas se conhecem outras duas misturas. A primeira foi “When The Levee Breaks”, que entrou no álbum original, e a segunda foi a mistura de “Stairway To Heaven”, que acabou por ser editada na reedição de luxo do álbum, já em 2014. Já a nova versão de “Friends” emergiu das sessões “Olympic Studios Mix”. É uma mistura bem mais despida de elementos em relação à que fez parte do terceiro álbum, em 1970. Nesta versão não existem as orquestrações do tema original.

Outras iniciativas incluíram a edição do livro oficial “Led Zeppelin By Led Zeppelin”, que chegou em Outubro de 2018, por exemplo, e no dia 23 de Março desse ano, chegou a reedição de “How The West Was Won”. A nova edição (incluiu o formato vinil) e contém áudio remasterizado dos lendários concertos de 25 e 27 de Junho de 1972, no Los Angeles Forum e Long Beach Arena, respectivamente.

Leave a Reply