Led Zeppelin III

Depois de descarnadas as raízes blues na visceral sonoridade dos dois primeiros álbuns, em “III” os Led Zeppelin começaram a materializar o carácter místico e etéreo da mitologia europeia e o folclore da Velha Albion.

Em 1969, depois do sucesso de “I” e “II”, da rapidez com que os seus concertos hiper eléctricos os fizeram passar, nos Estados Unidos, de opening act para os Vanila Fudge a headliners. Os Led Zeppelin mantinham um ritmo criativo imparável, gravando em Headley Grange, em dois grandes períodos, o grosso da sua discografia e forjando uma nova sonoridade a partir de uma míriade de fontes estéticas. A virilidade dos primeiros álbuns, o seu experimentalismo e força demolidora, que conjugava a electricidade febril da voz de Plant e das guitarras de Page com a brutalidade das pancadas de John “Deus” Bonham e o pulsar de John Paul Jones, foram os agentes alquímicos que fundiram rock ‘n’ roll e misticismo.

Diz Jimmy Page: «Os Led Zeppelin, os seus músicos, eram uma banda mergulhada nas raízes. Cada um de nós havia sido um investigador musical, como se tivessemos uma licenciatura na Universidade de Vida Musical. Quando nos tornámos um colectivo, surgiram estes tipos de elementos em que ouves um pouco de um “gancho” rockabilly aqui, um pouco de jazz ali, blues de Chicago acolá ou um pouco de Elvis além… Há tantos carácteres diferentes que são espelhados individualmente e musicalmente. E chega ao ponto em que – é demasiado foleiro falar num caldeirão – se torna uma fusão. Fusão musical. É isso que acontece».

Se muito do material dos dois primeiros álbuns é, ainda hoje, associado a um certo plagiarismo aos clássicos do blues afro-americano (e vários temas tiveram os créditos reformulados mais tarde), a banda começou a dissipar qualquer dúvida quanto à sua originalidade e no quão influentes se tornariam com o decorrer do tempo de forma exponencial. Nesse sentido, “III” foi pivotal. Servindo de ponte entre a energia prímeva dos dois primeiros trabalhos e “IV”, a obra-prima. Expandiu a sonoridade e a estética da banda, fazendo aí convergirem todos os pressupostos que foram cristalizados posteriormente. Tolkien já estava presente nas fontes de inspiração desde “Ramble On”, agora o quarteto juntava-lhe o folclore da Velha Albion, raízes celtas e indo-europeias e mitologia nórdica.

Que ferocidade se sente na eléctrica primeira metade do alinhamento. Que groove e suavidade está impressa no acústico lado B do LP. E se algum néscio, apoiando-se em chavões opinativos, vos disser que este é o menos marcante dos trabalhos oriundos de Headley Grange, usem “Immigrant Song” como Mjölnir para lhe arrear uma sova de riffs. Se algum hipster vos falar na sofisticação e originalidade dos Portishead, enfiem-lhe “Since I’ve Been Loving You” garganta abaixo.

Há mais contrastes dinâmicos e maior eficácia no preenchimento dos espaços entre aquilo que cada um dos músicos trazia para a equação, afinal começavam a conhecer-se realmente, reflecte Plant: «Depois da gravação do primeiro disco, que durou 36 horas, não parámos de trabalhar. Fizemos umas seis tours na América em 1969. Ninguém percebia bem o que estava a acontecer. Limitávamo-nos a andar na estrada, a tocar com James Gang, Country Joe e Jefferson Airplane. “Led Zeppelin II” foi totalmente criado na estrada, o que o torna característico. As coisas só começaram a mudar no trabalho seguinte. Fomos até Bron-Y-Aur para preparar músicas e foi a primeira vez que realmente convivemos, fazendo coisas como usar a mesma casa de banho – separadamente, é claro. Finalmente, tivemos algum tempo para respirar e nos conhecermos».

Em 2014, os Led Zeppelin anunciaram a campanha de reedição da sua discografia, com os seus três primeiros álbuns a serem reeditados no dia 02 de Junho desse ano. Jimmy Page assinou a remasterização das gravações, que chegaram acompanhadas por toneladas de material inédito. Originalmente, “III” foi editado a 05 de Outubro de 1970.

We come from the land of the ice and snow from the midnight sun where the hot springs blow / The hammer of the gods will drive our ships to new lands / To fight the horde and sing and cry, Valhalla, I am coming / On we sweep with, with threshing oar / Our only goal will be the western shore