Mikael Åkerfeldt

Mikael Åkerfeldt & Fredrik Åkesson, A Era PRS Guitars dos Opeth

A procura do sentido retro do rock progressivo e do jazz na estética death metal dos Opeth. O equilíbrio de forças quando Fredrik Åkesson se juntou a Mikael Åkerfeldt nas guitarras, redimensionando o som da banda. A origem da parceria com a PRS Guitars e os modelos de assinatura na gama SE.

Os Opeth são uma das maiores bandas de sempre a emergir dos espectros mais pesados da música. Mesmo que tenham, progressivamente, criando uma distância estética com as suas origens sonoras, para explorar maior fusão na sua música e até um sentido retro do rock progressivo, principalmente a partir de “Heritage” (2011). Esse carácter da sua música está bem latente num tema como “Eternal Rains Will Come”. Uma composição quase como um bucólico pastoral, de fusão jazz, que vai progredindo para o psicadelismo das décadas de 60, com o músculo do hard rock clássico dos anos 70. Bom, na verdade estamos como a descrever de forma generalizada o álbum de 2014, “Pale Communion” e as suas atmosferas mesmerisantes.

Dois anos depois, “Sorceress” parecia ter vindo provar a cristalização dessas dinâmicas. O 12º álbum dos suecos foi editado a 30 de Setembro via Moderbolaget/Nuclear Blast Entertainment, depois de ter sido gravado nos Rockfield Studios, no País de Gales, durante doze dias. Um trabalho que satisfez particularmente Åkerfeldt. «Amo este álbum assim como toda a banda. Escrevi as músicas durante 5/6 meses e gastámos apenas 12 dias a gravá-lo nos Rockfield Studios. Acho que mais uma vez demos um passo para frente. Ou para o lado. Ou para trás. Para algum lugar? É diferente! É extremamente diverso»,afirmava à altura o frontman dos suecos.

Mais dois anos passaram. Gravado em 2018, nos Park Studios, em Estocolmo, “In Cauda Venenum” foi o 13º álbum dos Opeth. Originalmente, foi editado em duas versões (em sueco e em inglês) e em diferentes formatos físicos e digitais já no Outono de 2019. Não satisfeitos, os titãs do prog metal anunciaram, já em Março de 2022, o lançamento de uma versão alargada do álbum. Intitulado “In Cauda Venenum (Extended Edition)”, o disco chegou no dia 13 de Maio, através da Atomic Fire Records. Esta edição, disponível em digipack, contém as versões inglesa e sueca do disco, com novas ilustrações de Travis Smith. Além disso, há um terceiro CD que inclui três temas bónus até aí inéditos, também disponibilizados em forma bilingue: “The Mob/Pöbeln”, “Width Of A Circle/Cirkelns Riktning” e “Freedom & Tyranny/Frihet & Tyranni”. Foi ainda lançada uma caixa de vinil, a Connoisseur Edition do álbum, uma edição extremamente limitada, que inclui as mesmas faixas bónus e os discos originais numa nova versão remasterizada para vinil pelo vocalista, guitarrista e mentor do grupo, Mikael Åkerfeldt.

Mikael Åkerfeldt, desde sempre na banda, estabilizou a sonoridade de guitarra com a chegada, em 2007, de Fredrik Åkesson. Os guitarristas são ambos endorser PRS Guitars, com modelos de assinatura na marca, que criou inclusivamente modelos SE com a assinatura de ambos. Os guitarristas, numa ocasião em que os apanhei em Frankfurt, na Musikmess, em entrevista (originalmente publicada na AS#20, em 2011) falam da peregrinação sonora da banda e do seu som, que estava então num ponto de charneira.

Desde o início que os Opeth o têm vindo a fazer progressivamente e procurando também um sentido do rock clássico, pergunto-me se, quando começaste, sentias o metal a afastar-se da sua matriz genérica?
Åkerfeldt: Eu procurava algo novo, além de tocar a minha própria música e ouvir-me a mim mesmo. Quando descobri o rock progressivo, mais do que encontrar um novo estilo de música favorito, descobri um caminho para fazermos algo diferente e não ser apenas mais uma banda de death metal. Gosto daquilo que estamos a fazer. Há um contacto com uma banda como Judas Priest, em álbuns como o “Rocka Rolla” ou “Sad Wings Of Destiny”, que era mais progressivo, não é exactamente pesado, como os Sabbath, por exemplo, que também tinham algo de progressivo. Estive sempre a procurar “algo” e quando encontrei bandas como King Crimson ou Camel… Wow!

Como é que tudo isso se reflecte concretamente na guitarra?
Åkesson: Para mim houve, necessariamente, um processo de procurar aprender o estilo de tocar do Mikael e adaptar-me ao som da banda.

Åkerfeldt: O que procuramos é ser versáteis, uma vez que tocamos tantos estilos diferentes. Não funciona com alguém que se limite ao shred, é preciso ter um grande sentido de ritmo e ser capaz de saltar entre estilos, tocar acústico, ritmos, um pouco de shredding, ter sentimento… É preciso cobrir bastante terreno nesta banda. Tentamos ser a extensão um do outro, no que toca às guitarras. O Fredrik consegue fazer coisas que eu, estando concentrado na composição, posso querer ter na canção, mas não consigo fazê-lo.

E és tirano na forma como trabalham os arranjos?
Åkerfeldt: Em estúdio exijo tudo e posso ser um pouco impaciente, mas apenas por isso talvez não saiba dizer as coisas com calma, mas eles percebem isso. Aliás, penso que o Fredrik acha isso engraçado.

Åkesson: A verdade é que também é importante ter uma voz com um pouco mais de autoridade numa banda, e é bom trabalhar com ele, é alguém que está sempre disposto a percorrer aquela “milha extra”.

Isso estende-se ao material que usam? Por exemplo, lembro-me do Fredrik usar Gibson, entretanto passaram ambos a usar PRS…
Åkesson: Isso não é um problema, porque ainda que usemos a mesma marca, as guitarras são diferentes, também usamos pickups diferentes e, claro, amplificadores diferentes. Temos o som bastante distinto um do outro, num sentido dinâmico.

Åkerfeldt: E depois, a guitarra é apenas um instrumento, é a pessoa que está a tocar guitarra que faz o som e não somos similares enquanto guitarristas. Vi uma entrevista a um shredder em que lhe diziam «Wow, essa guitarra tem um grande som». Então, ele pousou a guitarra e deixou-a quieta e perguntou: «Ah sim? Que tal está a soar agora?».

E como surgiram os modelos de assinatura PRS, que input tiveram no desenho dos vossos modelos?
Åkesson: O meu contacto foi através do Mikael, depois de ter entrado na banda. Contribui com algumas ideias nos acabamentos e o controlo de pickups é invertido, com a posição da bridge por cima, pois é a que uso mais. Os pickups são os SE 245, Treble e Bass, cada um com controlo de Tone e Volume, penso que aí fui influenciado por ter tocado tanto tempo com Gibson. Gosto muito da guitarra. É em mogno, com tampo em maple e escala de ébano.

Åkerfeldt: Já desde 1999 que usava PRS, na altura o Anders “Blakkheim” Nyström [Katatonia, Bloodbath] pediu-me para ir com ele ajudá-lo a escolher uma guitarra e na loja estava uma PRS Standard 24 que ambos experimentámos e eu fiquei de “boca aberta”. Eu fiquei danado [risos] porque eu queria a guitarra e ele comprou-a, gravou um álbum com ela, mas disse-me «a guitarra é demasiado boa para mim, queres comprá-la?», comprei-a e gravei o álbum “Blackwater Park” com ela, e usei-a desde então. Depois para enfrentar as digressões comprei outra, uma Custom 24, em segunda mão, mas com o avolumar das digressões senti que necessitava de outra guitarra e pedi ao nosso management para nos ajudar num acordo com a PRS, o que aconteceu. Fomos mesmo à fábrica e acabaram por me propor um modelo de assinatura. Gosto muito da Modern Eagle, mas não queria que fosse um modelo que ninguém conseguisse comprar, então, basicamente é o mesmo tipo de guitarra, mas uma SE. Os pickups são o HFS Treble e o Vintage Bass, o braço é um pouco mais largo que o de uma Modern Eagle, é como gosto, pois permite-me tocar de forma mais limpa.

Ao contrário do Fredrik só tens um controlo de Volume e Tone…
Åkerfeldt: Sim, porque eu ainda hoje me baralho todo com esses controlos [risos]. Queria a bridge e o logo em dourado, gosto muito, o Fredrik acha que dá um ar demasiado cristão à guitarra [risos].

Nos últimos anos, surgiram muitas bandas que procuraram aproximar-se da sonoridade de Opeth, nos níveis de produção, como olhas para isso?
Åkerfeldt: Não me incomoda minimamente, aliás se é notório que alguém é fã de Opeth a esse ponto, isso deixa-me feliz. Não sinto isso como competição, é apenas música e tal como acontece connosco e as nossas influências – nunca ouvi uma banda que me fizesse dizer, este é o nosso som! Há sempre uma combinação de tantos estilos e influências. De facto, cada novo álbum [dos Opeth] será mesmo uma ligeira forma de rebelião contra o metal genérico contemporâneo e até contra nós mesmos enquanto executantes e enquanto banda, contra o nosso som. Se quero que sejamos uma banda progressiva, então quero que sejamos capazes de progredir. Hoje fala-se em progressive metal e quando ouves isso há quase uma repetição de formato, não é progressivo de todo. E nós estamos mesmo a tentar novas formas, há que tentá-lo, acho que seria muito mau para esta banda fazer dois álbuns iguais, penso que para um fã de Opeth cada disco deve ter música a abrir horizontes e a provocar algum arquear de sobrancelhas.

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