Intitulado “In the Court of the Crimson King”, evocando o lendário álbum de estreia dos londrinos, em 1969, o filme/documentário estreará no South by Southwest em Março e um trailer está agora disponível para visualização.
Como se vê no trailer (no fundo do artigo), o filme segue a mais recente encarnação do King Crimson, um “quarteto duplo” de três bateristas, em digressão em 2018 e 2019. Vemos filmagens íntimas da banda no palco, nos bastidores e em viagem e imagens de entrevistas com membros que fizeram parte de toda a sua história de mais de meio século. Excertos da canção, porventura, mais emblemática dos King Crimson, o hino antiguerra “21st Century Schizoid Man”, pontuam as cenas. A realização coube a Toby Amies, que anteriormente retratou o excêntrico actor e bailarino britânico Drako Oho Zarhazar, no documentário “The Man Whose Mind Exploded”, em 2013. O trailer deixa pistas de que o documentário se concentrará não apenas no génio artístico da banda – a forma como o guitarrista, co-fundador, e único membro consistente Robert Fripp o pilotou do rock progressivo para a arte pop e improvisação livre, por exemplo – mas também nas lutas interpessoais que mantiveram a formação dos King Crimson em fluxo quase constante.
«Vista de fora, é a banda de sonho; a banda em que se podia fazer tudo o que se quisesse», diz o baterista Bill Bruford, membro dos King Crimson desde os anos setenta até aos anos noventa, logo no início do preview. Depois, um desfile de outros antigos e actuais membros fala sobre as suas vivências durante o seu tempo na banda. «Alguns de nós passaram pelo inferno», diz o saxofonista Mel Collins, um membro do início dos anos setenta que voltou a integrar a banda em 2013, depois de se reconciliar com o exigente Fripp. «Na ressaca de fazer alguma dessa música, perdi o cabelo», diz o guitarrista-vocalista Adrian Belew, que serviu como frontman dos Crimson nos 80s. A certa altura, o co-fundador Ian McDonald, que deixou o grupo no auge do seu sucesso inicial, em finais de 69, aparece num lacrimoso pedido de desculpas ao seu antigo companheiro de banda Fripp: «Amo-te, Robert, e lamento ter-te partido o coração».
O próprio Fripp maravilha-se com a forma como a última formação da banda – que provavelmente será a sua última, após o fim da digressão de 2020/21, aparentemente a de despedida – conseguiu alcançar algum grau de harmonia após tantas décadas. «São os primeiros King Crimson onde não há pelo menos um membro da banda que se ressente activamente da minha presença. O que é espantoso», admite com espanto. Também ouvimos falar, no trailer, o co-fundador e antigo baterista Michael Giles, o esquivo percussionista da década de 70 Jamie Muir, o actual vocalista-guitarrista Jakko Jakszyk e o baterista Pat Mastelotto, tal como o baterista Bill Rieflin, membro desde 2013, que morreu de cancro em 2020.
O filme foi encomendado pela banda, o manager dos King Crimson, David Singleton, explica a escolha do realizador. «Há muito que o Robert e eu considerávamos que deveria haver um bom documentário dos King Crimson. Sentimos que o formato ‘entrevista padrão’ estava a tornar-se cada vez mais maçudo e pouco criativo. Portanto, abordámos o Toby Amies, um cineasta independente, e pedimos-lhe que fizesse um documentário musical original. Para reimaginar o formato. E demos-lhe total liberdade criativa para o fazer. Assim, o filme é realmente sancionado pela banda, na medida em que deixou a bola rolar e permitiu a Toby o acesso e entrevistas que ele pediu. Depois disso, cederam-lhe alegremente todo o controlo criativo. Os músicos estão habituados aos problemas que surgem com tentativas externas de controlar a sua criatividade, pelo que esta foi uma área que todos se compreenderam bem».
Robert Fripp, em declarações prestadas por e-mail à Rolling Stone, foi mais sucinto. Referindo tratar-se de «um documentário elaborado, que mostra as vidas dos músicos dos King Crimson durante 2018-2019. O estilo de vida rock & roll, de glamour e excesso, ao detalhe, incluindo entrar e sair de autocarros, viver e morrer, ressentimento, um pouco de humor e até mesmo alguma música».
Já o realizado Toby Amies confessa que conhecia muito pouco a banda antes de embarcar no projecto. «A música é tudo para mim. Mas não sabia nada dos King Crimson quando, na véspera de Natal de 2017, o Robert Fripp (um fã do meu primeiro documentário de longa-metragem, ‘The Man Whose Mind Exploded’) sugeriu que fizéssemos um filme. Um filme sobre o que são os King Crimson, dentro do cinquentenário da banda. Aceitei o desafio sem fazer ideia de como isso seria difícil de fazer. Queria fazer um filme para compreender o que era estar nos King Crimson, tanto na altura como agora. É um processo difícil e complicado para todos os envolvidos. O filme documenta isso e quero que o público tenha a sensação de como é um ambiente criativo de alta pressão e o que isso pode fazer aos indivíduos que nele entram».
Amies finaliza: «Espero que o filme ressoe junto de músicos e qualquer pessoa que tenha feito sacrifícios duros para se aproximar um pouco mais de fazer algo extraordinário ou até transcendente. Há algo de muito belo e inspirador numa banda que ainda está disposta a correr riscos, a cometer erros e a desafiar-se a si própria, mesmo quando o tempo os alcança».
Um pensamento sobre “In the Court of the Crimson King, Documentário Retrata a Agonia e a Glória das Lendas Britânicas”