O modelo de assinatura Randall Amplifiers de Nuno Bettencourt é um dos amps com o visual mais atractivo dos últimos tempos. Tal como as suas assinaturas com a Washburn Guitars, desde os modelos N4 e 4N às recentes Nele, cheios de recursos e versatilidade.
O luso-americano Nuno Bettencourt foi uma das estrelas da música presentes na Winter NAMM 2020 (ainda antes do coronavírus tomar o mundo de assalto). O guitarrista passou pela booth da Washburn Guitars, marca da qual é embaixador, com uma nova guitarra para mostrar, a “Nele”, um modelo Telecaster com um curioso sistema 6-way switch e, imediatamente, cativou a atenção de meio mundo! Foi o próprio que, na altura, revelou imagens deste modelo Super Tele, no seu Facebook oficial, afirmando: «Estou muito contente por vos apresentar a novidade da família. Digam olá à Nele. Há anos que espero pela minha versão da lendária Telecaster. Com a Nele obtenho seis distintamente diferentes sonoridades, com um singular 6 way switch, esquerda para direita e para cima e baixo. Já foi usado no sexto álbum dos Extreme e estou a adorar esta miúda. Curtam as primeiras fotos. São gémeas e adoram-se fraternalmente».
A guitarra possui duas versões, a Deluxe e a Standard. As specs são em tudo similares, com algumas diferenças, principalmente, nas madeiras seleccionadas. Em ambas há o sistema de switch 6-way “Freeway Ultra”, que permite as seguintes activações: 1 Neck Pickup; 2 Bridge + Neck Pickups; 3 Bridge Pickup; 4 Pickups in Series + In Phase; 5 Pickups in Series + Out of Phase; 6 Pickups in Parallel + Out of Phase. Vamos ver os specs de cada uma delas e recordarm ainda o modelo 4N, estreado em 2019.

NELE DELUXE | Foi a guitarra que Nuno Bettencourt primeiro apresentou nas suas redes e, como dissemos desde logo, o corpo é em Swamp Ash com tampo Figured Maple, em estilo single cut. O braço é Birdseye Maple com escala em ébano. São 22 trastes ao longo de 25.5” de extensão, com nut Black TUSQ XL de 43mm. Os PUs são um Seymour Duncan Vintage Stack (STK-T1N) no braço e um Bill Lawrence L-250 (L-250TB) na ponte. Há apenas um controlo de volume, mas depois há essa interessante curiosidade do switch quase omni direccional. O hardware dourado é Gotoh, com ponte GTC201.

NELE STANDARD | As especificações de escala, estilo de corpo, hardware e electrónica são exactamente iguais ao modelo Deluxe. As diferenças são as seguintes: na Standard, o corpo Swamp Ash não possui o tampo de Maple figurado; o braço é Maple natural em vez do Birdseye que, neste modelo, surge na escala em detrimento do ébano. Ambas as guitarras possuem acabamento Natural, matizado, e são vendidas acompanhadas de estojo rígido.

4N | Um ano antes, Nuno tinha estreado com a Washburn o modelo 4N, uma actualização à sua clássica guitarra de assinatura. Entrando em comparação com os modelos anteriores, a 4N possui uma escala em ébano mais fina e um perfil de braço mais profundo que os prévios modelos N4. O braço é uma peça Birdseye Maple e os contornos do corpo foram remodelados. Falando no corpo, este é uma peça em Alder com o design Stephens Extended Cutaway. Em entrevista, na última vez que os Extreme passaram por Lisboa, Nuno contou-nos a história desse detalhe: «O cutaway era algo sobre o qual tinha uma ideia do que queria fazer, para minimizar o tamanho do bloco convencional numa junção de 4 parafusos, mas a Washburn disse-me que já tinha falado com alguém, com um tipo chamado Stephenson, que tinha umas ideias interessantes. Quando me mostraram o trabalho dele, fiquei: ‘Wow, era exatamente uma coisa deste tipo que queria fazer!’, claro, um pouco à minha maneira, mas quando vi a dele pensei, ‘porque não’?» No hardware e electrónica surge um sistema de ponte Floyd Rose Original Tremolo, com nut Kahler, e os pickups são um Seymour Duncan ’59 e um Bill Lawrence L-500, completados por um singular potenciómetro de volume e um switch de três posições.
RANDALL NB KING 100
Ainda que o NB King 100 seja um amplificador que responde melhor a um determinado estilo, não só de sonoridade, mas também de instrumento, tem uma riqueza harmónica, apesar de ser um pouco específico não deixa de ter um timbre fascinante, tal como o visual que, uns 10 anos depois da sua chegada, mantém a sua elegância intacta. O painel do NB King 100 recorda-nos um pré-amp de estúdio vintage, com um estilo irresistível e mostra uma das particularidades deste amp: um VU Meter de agulha, extremamente útil para uma noção realista do volume de saída [no caso de ser usado o som directo através duma DI para a mesa]. Possui dois canais de equalização, clean – com controlos de Level, Treble, Middle e Bass – e o canal de overdrive, exactamente com os mesmos parâmetros de equalização. Depois, em ambos os canais temos um controlo de drive; no clean nos dá desde um som limpo e cristalino até um crunch bastante quente; no overdrive parte dum crunch até uma distorção bem potente. Há também um canal de solo com Drive e Level independentes, mas partilha do equalizador do canal de overdrive e com o qual podemos contar com maior predominância no sustain e mais capacidade de distorção.

Podemos contar com a potência de 100W (rms) debitada através de 4 válvulas EL34 e com 1 saída de coluna a 16ohm e 2 de 4ohm ou 8ohm; mais as típicas 12AX7 de pré. FX Loop com switch de nível; MIDI I/O que nos permite controlar através de um aparelho com o protocolo MIDI a comutação dos canais do amp, muito útil para aplicações ao vivo. Equipado com o sistema típico da marca, Power Tube Bias Adjust e além de tudo isto uma estética irresistível, por exemplo, com um controlo de Master Volume que é um “matacão” que nos recorda Michael J. Fox no “Regresso Ao Futuro”.
O amplificador mostra uma grande relação dinâmica com o instrumento. Há a realçar que se comporta muito melhor com a Stratocaster – que é mais aproximada sonoramente às Washburn do guitarrista luso-descendente – do que com modelos mais aproximados a características Les Paul ou mesmo com afinações mais graves, pois tende a enrolar um pouco o som. Contudo, este tipo de apreciação é sempre passível de subjectividade e não podemos esquecer-nos estarmos perante um modelo de assinatura. Mas de facto, com a Stratocaster que usámos podemos explorar uma sonoridade extremamente versátil, uma resposta variada às combinações de timbre que a alteração de pickups na guitarra provoca. Ou seja, uma grande definição e uma acção efectiva, e distintiva, da equalização.
Nas sonoridades mais Clean/Crunch sentimos os estalar das notas limpas estilo funk guitar [tão típicas do guitarrista luso descendente] e até os intervalos rítmicos e harmónicos crispados e quentes do drive mais suave no 1º canal, aqui é notória a resposta dinâmica da entrada principalmente nos single-coils. No canal de Overdrive temos todo o calor e sustain do amp que é muito rápido na resposta da guitarra, o que torna muito apetecível o toque, até nos harmónicos artificiais e na recuperação de feedback, até nas oitavas mais altas.
Uma particularidade que faz lembrar a característica do clássico JCM800, e que tem mais relevância neste último canal [também no canal Solo]: o estágio de ganho é dinâmico harmonicamente na sua acção, ou seja, depois de meio aumenta proporcionalmente o raio de acção de frequências agudas, derivado da distorção harmónica provocada pela compressão das válvulas quando puxamos mais pelo ganho, o que, por seu turno, torna mais fácil o manuseamento das notas mais altas da guitarra, recriando aquele crispar agudo, uma delícia para o picking rápido [uma sensação de areia no som] típico do classic rock dos anos 80 e inícios dos 90. O NB King 100 mantém viva uma tradição de décadas, podemos dizer, que se remete a uma série de amplificadores e vem relançar uma atitude sónica que se estava a perder, que me atreveria a chamar new classic. Um som de luxo a acompanhar uma beleza de amplificador.