Zola Jesus, Sintetizações Cavernosas & Gnosticismo em “Arkhon”

Nika Roza Danilova anunciou o seu sexto álbum como Zola Jesus. “Arkhon” chega a 20 de Maio de 2022, via Sacred Bones. O seu primeiro LP em quase cinco anos surge revestido de programação exótica e de densas paredes de sintetização.

Danilova trabalhou com o produtor Randall Dunn e o percussionista Matt Chamberlain neste seu novo álbum. “Arkhon”, que significa poder ou governante em Grego Antigo/Clássico, tem no seu título uma clara referência ao Gnosticismo e à Mitologia Arconte. Uma ideia, de resto, admitida pela artista: «Arkons são uma ideia gnóstica de poder empunhado através de um deus imperfeito. Eles mancham e deixam a sua marca na humanidade, mantendo-a corrompida em vez de a deixar encontrar o seu eu harmonioso. Sinto que estamos a viver numa época arcaica; estas influências negativas estão a pesar extremamente sobre todos nós. Estamos numa época de arkhons. Há poder em nomear isso».

Há uma extensa reflexão sobre o conceito do álbum e a sua sonoridade no respectivo Bandcamp. Podem ler aí o texto original ou aceitar a nossa proposta de tradução, que diz: «Há uma forma para uma voz poder cortar através da fáscia da realidade, clivando através do hábito até ao nervo bruto da experiência. Nika Roza Danilova, a cantora, compositora e produtora que, desde 2009, tem lançado música como Zola Jesus, é detentora de uma voz com essa capacidade. Quando a ouvimos, é como se estivéssemos a ser convocados – não para um lugar novo, mas para um lugar que já existe dentro de nós, num lugar anteriormente obscurecido pela experiência consciente. Este lugar foi enterrado porque tende a conter a dor, mas é também um presente, porque uma vez aberto, uma vez dentro dele, pode mostrar-nos a verdade.

“Arkhon”, o novo álbum de Zola Jesus, encontra novas formas de libertar essa dor submersa e estagnada. Pouco tempo após ter começado a escrever as canções que iriam compor o disco, Danilova viu-se diante uma barragem criativa, um feitiço de bloqueio de escritor mais asfixiante do que qualquer outro que já tinha experimentado antes. «Chegou ao ponto em que nem sequer conseguia ouvir música. Tudo soava igual», diz. Em álbuns anteriores, Danilova sempre desempenhara em grande parte o papel de autora, elaborando meticulosamente todos os aspectos do som e do olhar de Zola Jesus. Desta vez, percebeu que a sua necessidade habitual de controlo a estava a fechar do lado de fora da sua arte. Quando a frustração de não conseguir criar se tornou intolerável, deu um salto de fé e pediu auxílio, algo que nunca tinha feito tão vespertinamente na vida de um álbum. «A certa altura, tive de trabalhar com outros. Precisava de sangue novo. Precisava de outra pessoa».

Danilova enviou as suas demos ao produtor Randall Dunn, conhecido pelo seu trabalho com Sunn O))) e na partitura de Jóhann Jóhannsson para o filme “Mandy”. Também começou a colaborar com o baterista e percussionista Matt Chamberlain, cujo trabalho surge em álbuns de Fiona Apple, Bob Dylan e David Bowie. A sua ousadia e a sua inquietude vieram ajudar a definir o som do disco. Abdicando de um grau de controlo sobre a sua música e ouvindo outros a contribuir para ela, [Danilova] começou a descongelar o bloqueio criativo que a tinha impedido de trabalhar. «Senti que finalmente conseguia ouvir a minha música num contexto que era mais amplo do que aquilo que podia fazer sozinha», diz. «Estou a permitir que as pessoas interpretem as minhas ideias musicais e as minhas canções de uma forma que sustenta tudo, mas também a expandi-las para um som que nunca teria sido capaz de pensar por mim própria. Isso foi muito gratificante de ouvir».

Apesar da escuridão entrançada na realidade, há poder também na rendição ao que não pode ser controlado, ao desenrolar selvagem do mundo em todo o seu movimento imprevisível. Esse deixar-se ir é o cerne de “Arkhon”, que marca uma nova forma de moção e acção para Zola Jesus. «Há um momento em que deixas de lutar contigo. É aí que as coisas podem realmente acontecer. Fui desarmada de tal forma que me limitei a deixar o processo criar o disco. Pude apreciar estar no momento, colocando isso na música e deixando-a desenrolar-se ou evoluir à sua própria maneira. Deixá-la ter a sua própria história, da qual eu apenas mantive a parte de a contar».

Para apresentar o seu novo disco, Zola jesus partilhou o single principal “Lost”, onde se pode ouvir um coro popular esloveno integrado na densa estrutura musical. Aliás, o tema está acompanhado com um vídeo escrito, realizado, editado e filmado na zona da Capadócia, na Turquia, por Mu Tunç (podem ver no player em cima).

Leave a Reply