HOOFMARK, Blood Red Lullabies

Entre sugestões da loucura/genialidade psicadélica de Captain Beefheart e o rock meio “artsy” de bandas como Jane’s Addiction ou The Smashing Pumpkins, este extraordinário álbum de HOOFMARK vai muito além da catalogação como black metal avant-garde.

Depois da demo “Stoic Winds”, lançada em 2016, de dois singles em 2017 e de um disco em 2021, “Evil Blues”, HOOFMARK regressou a estúdio para o fazer segundo disco, esse extraordinário “Blood Red Lullabies”. O texto extraído do press release da Ride The Snake diz-nos que, num universo cheio de dualidades, entre o caos e a serenidade, a impermanência e a conciliação reside a entidade HOOFMARK. Vindo de um lugar de urgência e ansiedade, o projecto nasce em 2012, em Lisboa, como alter ego de Nuno Monteiro Ramos que usa a música para manifestar confrontos, descobertas e conciliação.

A sua criação mistura marcas particulares de metal, rock, blues e algumas coisas que ele próprio não entende bem. Caracteriza a sua música como Evil Blues, em homenagem a Mance Lipscomb, marcando a sua assinatura sonora na paisagem, torcendo-a à medida das necessidades e do seu foco de atenção: vida e morte, humano e Natureza, idolatria e lenda. Fugindo a uma constância sonora, baseia-se na impermanência, oferecendo sempre discos que contém vários estilos, paisagens e rendilhados sonoros, necessitando dessa impermanência para se validar, soe como soar.

Acima de tudo, HOOFMARK enraiza-se à terra e serve-se dela para compor olhando tudo à sua volta com outros olhos e, até dentro dele. Por vezes, quando viajamos até ao nosso interior, conseguimos fazer descobertas que nos podem ajudar a sentir tudo à nossa volta de uma maneira diferente. Não há bom nem mau, correcto ou incorrecto. Há sentir e viver. Viver e morrer e tudo o que possamos experienciar enquanto ser humano consegue ganhar forma e voz através de uma das mais belas formas de arte, a música.

Pouco mais de um ano e meio depois do lançamento do seu primeiro longa duração, HOOFMARK regressou aos discos e aos mitos criados, consolidando o seu som orgânico de assinatura – uma dança agitada de correntes particulares de metal, rock e blues. A curta distância que separa os dois discos revela um chamamento súbito de novas músicas. Ao longo de oito temas, entre canções dinâmicas, instrumentais que regulam humores e composições épicas, algumas das quais cantadas em português, “Blood Red Lullabies” captura diferentes tonalidades da música, ora na sua forma mais “extrema”, ora na mais subtil.

Entre sugestões da loucura/genialidade psicadélica de Captain Beefheart e o rock meio “artsy” de bandas como Jane’s Addiction ou The Smashing Pumpkins, este álbum vai muito além da catalogação como black metal avant-garde. Trata-se de um disco inesperado, coberto de dualidades e paisagens distintas onde cada um pode sentir o desconforto confortante de passear pelo desconhecido sem nunca levantar os pés do chão.

“Blood Red Lullabies” tem toques pintados a vermelho-sangue marcados pelos rigores da vida e de um futuro incerto, mesclando-se com uma dança agitada e mitos admiráveis que nos ficam a ecoar na mente e ocupam todos os poros do corpo, refletindo a importância de o projeto continuar a contar histórias e criar mitos, dentro e fora da música. Foi por um triz que não o listámos na nossa lista AOTY 2022, ainda que o tivéssemos mencionado aí. Todavia, quanto mais o ouvimos mais vontade fica de o ter incluído de forma perene.

O álbum conta com a participação de El Vaquero Ungulado na Voz, Guitarras e Letras; Towkuhsh Razamod no Baixo, Harmónica, Acordeão, Guitarra (Solo em “Azuis & Vermelhidão”) e Piano [“All about our family (ella está muerta)”], Andrecadente na Bateria Acústica e Percussões, André Hencleeday no Piano e Jorge Silva na Flauta. Foi produzido e masterizado por Towkuhsh Razamod no ERRE, tem o selo da Raging Planet.

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