Jimmy Page & Les Paul

Jimmy Page reflecte sobre as diferenças de características físicas e, consequentemente, sónicas que o fizeram trocar a Telecaster dos tempos dos Yardbirds e que erigiu o primeiro álbum dos Led Zeppelin pela Les Paul Standard que se tornou axiomática no segundo álbum dos colossos do hard rock.

Poucas parcerias guitarra/guitarrista são tão icónicas como Jimmy Page e a Gibson Les Paul, formada após o lendário músico ter utilizado quase exclusivamente uma Fender Telecaster no álbum de estreia da banda. Embora algo semelhantes no design ergonómico – ambos os modelos têm construção single-cut, afinal – as diferenças entre a Telecaster e Les Paul são como a noite e o dia, com distinções em quase todas definições, desde as madeiras do corpo e braço à electrónica e hardware.

Numa publicação nas redes sociais, Page mergulhou a fundo numa reflexão sobre estas diferenças sónicas e funcionais e revelou porque é que tais especificações contrastantes acabaram por convencê-lo a mudar permanentemente para a Les Paul, ainda que já fosse apaixonado pela sua Les Paul Black Beauty (com a qual gravava dezenas de sessões como hired gun). Ao fazê-lo, Page revelou como Joe Walsh o guiou ao longo do caminho, depois do ícone dos James Gang e dos Eagles lhe ter vendido a Les Paul Standard que passou a construir a “textura sónica” de Led Zeppelin II. Na longa declaração publicada no seu Instagram, Page reflectiu sobre a sua amizade com Walsh, dizendo que a estreita ligação entre ambos pode ser rastreada até aos seus dias nos Yardbird, em meados dos anos 60, altura em que Walsh o viu tocar.

«Na altura, o Joe trouxe uma Les Paul Standard a um concerto no Fillmore East, na primeira etapa da digressão norte-americana e disse-me: ‘Tens de ter esta guitarra’. Respondi: ‘Bem, não preciso dela, Joe, tenho uma Les Paul Custom’», recorda Page, passando a elaborar sobre o que conhecia acerca do potencial da Les Paul: «Sabia que as guitarras Les Paul eram muito fáceis de utilizar, na medida em que ofereciam imenso volume quando as ligava ao amplificador, porque tinham pickups de bobina dupla [humbuckers], ao passo que a Telecaster tinha um pickup de bobina única. Com o tipo de volume que agora precisava de possuir em situações ao vivo, embora usasse feedback controlado, descobri que a Telecaster começava a tornar-se um pouco estridente».

De facto, esta natureza errática das Teles em grandes volumes – bem como a sua incapacidade de domar totalmente feedbacks – foi o que começou por deixar Page de pé atrás e a olhar com outros olhos para as Les Paul. «Tive de reflectir muito sobre a minha situação, por causa do feedback não provocado. Com a Les Paul obtinha-se feedback através do amplificador e dos altifalantes, mas podia-se controlá-lo mais facilmente e moldá-lo. Podia-se de facto mudar a própria nota e a frequência que voltava no feedback. Gostei imenso de tocar com a guitarra do Joe e por isso concordei com ele que talvez devesse comprar a sua Les Paul Standard, afinal de contas».

Page gostou tanto da guitarra que passou a usar a Les Paul de Walsh intensamente e a imortalizou em alguns dos maiores malhões dos Led Zeppelin II. Essa guitarra ajudou a moldar todo o som do segundo álbum do Led Zeppelin, tal como a Fender Telecaster tinha feito no seu disco de estreia alguns meses antes. «Toquei a Les Paul em ‘Whole Lotta Love’ e ‘What Is and What Should Never Be’ e isso fez-me tomar uma decisão: a partir daí, usaria definitivamente Les Paul. Quis sempre fazer uma mudança sónica em cada álbum e essa foi a minha primeira decisão para ‘Led Zeppelin II’. Como tinha construído ‘Led Zeppelin’ em torno da Fender Telecaster, construí o segundo álbum em torno da textura sónica da Les Paul Standard. Nem o Joe Walsh nem eu nos apercebemos, na altura, da relevância do acto dele, ao ter vindo ter comigo com aquela Les Paul», conclui Page.

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