Led Zeppelin II

Acusados do roubo de licks aos clássicos do blues afro-americano, no seu primeiro álbum, os Led Zeppelin conseguiram neste segundo disco dissipar qualquer dúvida quanto à sua originalidade e no quão influente se tornariam com o decorrer do tempo.

Hoje censura-se a velocidade a que a web obriga as bandas a trabalhar, a editar consecutivamente singles, EPs, splits, remix, etc. Mas nos anos 60 esperava-se que uma banda lançasse mais até do que um álbum por ano. Os Led Zeppelin lançaram apenas oito álbuns de estúdio ao longo dos seus 12 anos de carreira mas, até à data, existem mais de 1000 singles e 2000 LPs seus no mercado. A este respeito, todos os vinis, etiquetas e capas foram documentados pelo fotógrafo Ross Halfin com soberbos detalhes que chegaram às bancas no dia 17 de Abril de 2021. Um trabalho de amor, “Led Zeppelin Vinyl” é um must-thave para os fãs da banda inglesa, bem como para qualquer entusiasta do vinil. Halfin é um dos fotógrafos mais conhecidos do mundo e trabalha na indústria da música desde 1976, tendo uma colecção de discos quase tão extensa como o seu arquivo fotográfico: «A colecção de vinil é um vício. Nada melhor do que ouvir vinil e ficar a olhar para a arte da capa e o interior. O primeiro álbum que comprei foi ‘Led Zeppelin II’ quando tinha 13 anos. Agora tenho pelo menos 40 versões diferentes desse disco».

E a propósito desse disco… Em 1969, depois do sucesso do seu álbum de estreia, encontravam-se nessa situação e surgiam motivados pela rapidez com que os seus concertos hiper eléctricos os fizeram passar, nos Estados Unidos, de opening act para os Vanila Fudge a headliners, com actuações alargadas que deram origem a lendas como as jam em “Dazed and Confused” ou “Communication Breakdown”. Aliás, diz-se que muitos dos riffs de “Led Zeppelin II” surgiram espontaneamente desses improvisos em “Dazed and Confused”. O quarteto fixava um riff que gostava e procurava gravá-lo imediatamente.

Assim, “II” acabou com 9 canções gravadas em vários estúdios diferentes – uma manta de retalhos cosida pela produção Jimmy Page e a mistura de Eddie Kramer. Page estava tão apaixonado pela engenharia de Kramer nos álbuns de Jimi Hendrix como nós ficamos ao ouvir o tremendo riff de “Whole Lotta Love”. No final “II” passou pelos Olympic Studios e Morgan Studios, em Londres; A&M, Quantum, Sunset, Mirror Sound e Mystic Studios, em Los Angeles; e A&R e Juggy Sound, em NYC. A mistura teve lugar também nos A&R Studios.

Acusados do roubo de licks aos clássicos do blues afro-americano, no seu primeiro álbum, os Led Zeppelin conseguiram neste segundo disco dissipar qualquer dúvida quanto à sua originalidade e no quão influente se tornariam com o decorrer do tempo. Ainda que a imprensa não tenha amado imediatamente o disco, ele acabou por tornar-se axiomático na história do rock n’ roll ou do hard rock, como já se começava a apelidar o som da banda. Junto do público o sucesso foi imediato – o disco foi editado a 22 de Outubro de 1969 e em Novembro já atingira o “Ouro” nos Estados Unidos, país em cuja Billboard conseguiu mesmo desalojar por duas vezes “Abbey Road” (Beatles) da primeira posição. No UK apenas encimaria a lista em Fevereiro de 1970, tendo aí vendido até hoje mais de 12 milhões de cópias.

A fotografia do álbum foi inspirada por esta da Primeira Grande Guerra Mundial. German Federal Archives

A virilidade de “Led Zeppelin II”, o seu experimentalismo e a força demolidora do álbum, que conjugava a electricidade febril da voz de Plant e das guitarras de Page com a brutalidade das pancadas de John “Deus” Bonham e o pulsar de John Paul Jones, confirmou os Led Zeppelin como a melhor banda de sempre para muito boa gente. E acreditem, se herdaram este álbum do vosso pai e o ouvem desde o dia em que aprenderam a mexer num gira-discos, será muito provável que sejam gente boa.

Em artigo na AS, o pródigo baterista Alexandre Frazão, brasileiro radicado em Portugal, comentava a performance de Bonham no tema mais icónico, “Whole Lotta Love”. «Outro clássico. Havia uma grande dependência da banda em relação ao que Bonham fazia. Por isso nunca fez sentido uma reunião [depois da sua morte]. Deixa estar assim, não mexe. Sem Bonham, nunca seriam os Led Zeppelin. Este tema tem uma grande componente de funk, muito tight, mas o groove não é nada duro. Há até uns takes na net em que dá para ouvir os detalhes. Podia ser uma coisa bastante mais dura, mais “rockeira”, mas é com souplesse, soa grande, mas não é bruto, com muitas ghost notes. Mesmo quando sobe o volume, está lá sempre uma certa calma. Normalmente, quando estamos a gravar discos, jogamos pelo seguro e não conseguimos esta calma, que todos queremos ter, mas nem todos conseguimos alcançar. Ele consegue. É uma perfeição, uma composição riquíssima, sem nunca se atrapalhar, tudo muito limpinho. Ando há 20 anos a tentar fazer isto e atrapalho-me bué. A ele saía tudo com muita clareza. Em todos os temas, não há nada enfadonho, é sempre rico».

A irascibilidade de “Whole Lotta Love”, aquele misticismo Ledder de “Thank You” (quase um preâmbulo a “Stairway to Heaven”), o balanço de “Heartbreaker” ou o épico “Moby Dick” – hoje em dia é praticamente inadmissível, por público e indústria, que uma canção num disco seja, basicamente, um solo de bateria. Quem iria comprar essa track no iTunes? Mas colocar um álbum num gira-discos e levantar o volume da aparelhagem para níveis pouco recomendáveis, considerando a saúde auditiva e a ordem pública, sempre foi uma forma de mini concerto para muitos. E ao vivo? Sem limitações físicas de produção, Bonham desaparecia e emergia Deus…

O som “roubado” ao blues mantém-se neste álbum, mas estes malhões são pegadas de gigantes cujas réplicas ainda hoje fazem estremecer as fundações da Terra.

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