Jake E Lee

Jake E. Lee & A Genial Ferocidade de Bark At The Moon

O vendaval de shred de Jake E. Lee no super clássico que escreveu com Ozzy Osbourne. Nas pistas isoladas de guitarra em “Bark At The Moon” emerge um demónio de velocidade e destreza técnica que é como o elo perdido entre os estilos de Randy Rhoads e Zakk Wylde. Eis a sua história.

Em 1982, Ozzy decidiu avançar para uma oportunidade que germinara na sua cabeça e da editora: gravar um álbum ao vivo constituído inteiramente por canções que Ozzy tinha gravado originalmente nos anos 70 com Black Sabbath. O acordo dos Sabbath com a sua label anterior tinha expirado recentemente; ao regravar estas canções todos os compositores (incluindo Osbourne) beneficiariam dos direitos de publicação. Além disso, a Jet Records tinha acertado um acordo de distribuição com a CBS Records, que viu a pequena editora manter actividade e obter um lucro considerável com o lançamento. Além disso, os Black Sabbath estavam também a preparar o seu próprio lançamento de um álbum ao vivo (“Live Evil”) e Osbourne queria o seu álbum nas lojas primeiro.

A banda de Ozzy não estava interessada nisto. Ainda antes da sua morte, Randy recusara fazê-lo. O baterista Tommy Aldrige também. Consideravam ter adquirido um estatuto acima de uma manobra destas, onde teriam pouco espaço criativo. O baixista Rudy Sarzo hesitava, mas decidiu apoiar os colegas de banda. Diz-se que Ozzy confrontou Randy Rhoads, de forma furiosa e com pouca razoabilidade e que o guitarrista aceitou fazer o disco por motivos contratuais, mas que se decidira a deixar Ozzy depois disso.

Então Randy morreu, emergiu a narrativa do tremendo amor e entendimento que Ozzy tinha com o guitarrista, e os planos foram ainda mais apressados. Após terminar a tour de “Diary Of A Madman” com o guitarrista Bernie Tormé, foi escolhido Brad Gillis.

O álbum foi muito bem sucedido comercialmente e, na verdade, a banda e Ozzy mostram-se em boa forma a interpretar as malhas dos Sabbath. Todavia, a morte de Randy Rhoads deixara Ozzy Osbourne orfão do seu génio criativo e hesitante quanto ao futuro. Mas no seguimento do estrondoso sucesso dos dois primeiros álbuns a solo do antigo frontman dos Black Sabbath, a locomotiva tinha que continuar a andar. Era preciso outro ás e Gillis era carta fora do baralho…

Uma Sucessão de Más Decisões

Na transição das décadas 70/80, um puto de ascendência japonesa e galesa que adorava Zeppelin, Sabbath e Hendrix, começara por criar furor na cena de San Diego, Califórnia, com a banda que nomeou em honra ao primeiro álbum solo de Tommy Bolin. Os Teaser viram a sua fama alastrar, tal como o virtuosismo do seu guitarrista. Então Jake E. Lee deu um passo maior. Juntou-se a uma banda Mickey Ratt que, em 1980, se mudou para a Sunset Strip de LA e encurtou o nome.

Os Ratt começaram a tornar-se uma das maiores instituições do hard rock da década com o single “Dr. Rock”/”Drivin on E”, mas Jake E. Lee saiu da banda antes de gravar as malhas que ajudara a desenvolver. Esteve nos Sexist e depois formou os Rough Cutt. As demos desta banda (que viria a obter um sucesso moderado) entusiasmavam a cena e LA e, confrontado com um convite de Ronnie James Dio para se juntar à sua banda, na ressaca da saída dos Sabbath, Lee recusou. Mas o destino cruzado com antigos cantores das lendas de Birmingham estava traçado. E ainda em 1982, Lee já não recusou ocupar o lugar de Randy ao lado de Ozzy.

Foi assim que chegou “Bark At The Moon”. Lee começou a compor com Bob Daisley muito do material de um disco que, até hoje, vendeu mais de três milhões de cópias apenas nos Estados Unidos. Reflexo de uma tendência para o azar nas suas decisões, os direitos de Lee foram sonegados quando “Bark At The Moon” tornou-se num único álbum com todos os créditos de escrita unicamente atribuídos a Ozzy na sua discografia.

Lee sempre afirmou que, depois de escrever várias canções e gravar as suas partes em estúdio, Sharon apresentou-lhe um contrato que lhe retirava os direitos de composição e reprodução do álbum. O contrato acrescentava ainda que Lee não se podia pronunciar publicamente sobre o assunto.

Porque raio o assinou? O shredder sempre alegou que o fez porque não tinha representação legal e porque Sharon ameaçou despedi-lo e trazer outro guitarrista para regravar o seu material. Com o passar dos anos, Ozzy passou a reconhecer algum do contributo do guitarrista e Bob Daisley sempre afirmou que escreveu o disco com Lee. O assunto acabou por ser resolvido por acordo monetário e, pelo menos, no single que empresta o título ao álbum, Jake E. Lee passou a creditado como autor.

De resto, se existissem dúvidas sobre os méirots da malha, bastaria disparar as pistas de guitarra isoladas, para perceber que, certamente, não foi Ozzy a criá-las e executá-las. Tecnicamente, o tema é um vendaval de harmónicos e puxa ainda mais o uso do tremolo do que nos álbuns anteriores de Ozzy. No fundo, Jake E. Lee é como o elo perdido entre Randy Rhoads e Zakk Wylde.

O riff é demolidor na velocidade e idiossincrasia, a execução super limpa dos ritmos e solos – principalmente a última parte do primeiro (Mãe do Céu!) e o de saída do tema – e os acordes gigantes valeriam por si só uma estátua ao shredder que, ao invés, é criminosamente desconsiderado…

Jake E Lee Signature Pro-Mod So-Cal Style 1 HSS HT RW

Em 2022, estreou um novo modelo de assinatura inspirado na guitarra “meio” Charvel que Jake E Lee toca desde 1975. Apresenta um corpo em alder, escala 12″-16″ de raio composto com 21 trastes jumbo e arestas retraídas, sobre um braço bolt-on em maple. O volante do truss rod está instalado no heel. Na electrónica estão PUs Seymour Duncan e DiMarzio: um humbucker Seymour Duncan JB SH-4 e um par de single-coils DiMarzio SDS41 DP111. Único botão de volume estilo Strat, switch de cinco vias, ponte fixa sob a placa preta e afinadores perlados Charvel.

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