Ozzy Osbourne revê a sua carreira e, confrontado com a extraordinária casta de guitarristas com quem trabalhou, afirma que Randy Rhoads foi o melhor de todos: «Deu-me grandeza imensurável»
Nascido em Birmingham no dia 03 de Dezembro de 1948, John Michael Osbourne tornou-se no frontman dos Black Sabbath, antes de embarcar numa colossal carreira a solo (como possivelmente nenhum outro vocalista no heavy metal conseguiu). Uma enorme fatia do sucesso da carreira do Ozzy não reserva grandes segredos: foi voz para as guitarras de Iommi, Randy Rhoads, Jack E. Lee e Zakk Wylde (podia acrescentar-se Brad Gillis, Gus G, etc). Randy Rhoads e Zakk Wylde foram quase tão significativos para a evolução da guitarra eléctrica e da música como Iommi.
BIRMINGHAM
Sobre o início dos Sabbath, que ainda demorou alguns anos depois de Iommi ter começado a tocar com Bill Ward, o guitarrista recorda que foi Ozzy que pôs um anúncio algures: «Fomos a uma loja de música à procura de um cantor e vimos este anúncio, que dizia ‘Ozzy Zig procura banda’. Disse ao Bill, ‘Conheço um Ozzy dos tempos da escola, mas não pode ser ele’. Nunca o tinha visto cantar, nem nada. De qualquer forma, fomos a casa do Ozzy e foi a mãe dele que nos abriu a porta, ‘Johnny, é para ti’, ele apareceu no corredor, vi-o e disse ao Bill, ‘Esquece, eu conheço-o’. Não fazia a mínima ideia de que ele podia cantar, pensei que era uma piada. Então, basicamente, falámos um pouco com ele e fomos embora. E o Bill disse: ‘O que se passa?’. Respondi, ‘Bem, frequentava a mesma escola que ele. Tanto quanto sei, nunca ouvi falar dele a cantar. Acho que não vale a pena».
Mas as engrenagens do destino já laboravam para fazer surgir os Padrinhos do Heavy Metal e então, recorda Iommi, alguns dias depois desse episódio, «o Ozzy apareceu com o Geezer em minha casa, à procura de um baterista. O Bill vivia lá na altura. E eu disse: ‘Bem, o Bill é um baterista’. Então, basicamente, decidimos: ‘OK, vamos experimentar’. E foi o que fizemos. Decidimos experimentar e ver o que acontecia. E foi uma barulheira infernal…»
Esta história e muitas outras são contadas em “Biography: The Nine Lives Of Ozzy Osbourne”. O documentário de 2020, com entrevistas exclusivas e filmagens de arquivo, conta as muitas vidas e a incrível carreira do homem que personificou a rebelião do rock ‘n’ roll durante décadas. Desde a sua infância na pobreza ao tempo na prisão, da vida ao serviço dos Black Sabbath e uma carreira a solo bem sucedida, vencedora de um Grammy, nada fica por contar neste documentário de duas horas. Na altura das filmagens, aos 70 anos, Ozzy Osbourne reflecte sobre os detalhes íntimos dos seus sucessos, fracassos e a sua capacidade única de sobrevivência e perseverança – incluindo entrevistas nunca antes vistas sobre o seu diagnóstico de Parkinson.
GLÓRIA & DOR
Nesse mesmo ano de 2020, com o álbum “ØRD†NARY MAN” já editado, Ozzy Osbourne fez algumas entrevistas promocionais e numa em particular, uma sessão Q&A enviada como press release, fez uma retrospectiva aos primeiros tempos da sua carreira como artista a solo, depois de ter abandonado os Black Sabbath. Um dos pontos também teve que ver com a anormal quantidade de super estrelas da guitarra eléctrica com quem colaborou na sua carreira. Para Ozzy, houve um acima de todos os outros.
Questionado sobre a preparação do seu álbum de estreia a solo, o fenomenal “Blizzard Of Ozz”, Ozzy respondeu como Randy Rhoads foi determinante, ajudando-o a mudar por completo a sua abordagem à composição musical. «Em Black Sabbath, deixava-os fazer a sua cena e depois acrescentava as vozes, independentemente na tónica. Tinha que, por tentativa e erro, conseguir colocar ali uma melodia. Mas quando comecei a trabalhar com o Randy Rhoads, ele foi o primeiro a dizer-me: ‘Talvez devas tentar nesta afinação’ e fiquei… ‘Oh!’ Foi o primeiro gajo a, no mínimo, ter em conta a minha opinião e dar-me uma oportunidade. Mas ganhei experiência ao trabalhar com Black Sabbath e isso tornou-me mais fácil trabalhar com outros músicos. Mas com o Randy, tornou-se novamente divertido!»
A partir daí, confrontado com quais as diferenças entre os guitarristas com que trabalhou na sua carreira solo, nomeadamente o icónico trio Rhoads, Jake E. Lee e Zakk Wylde, a resposta foi pronta: «O Randy Rhoads era o melhor. Se tivesse que dizer-te com qual dos guitarristas devias optar por trabalhar, qual tinha a maior formação musical, era o Randy, porque podia compor, podia ler, podia tocar, ensinava na escola de música da sua mãe e era paciente comigo».
Ozzy prosseguiu os elogios a Randy Rhoads que, na verdade, sempre foram recorrentes ao longo da sua carreira, tal como a sua comoção a falar do príncipe da guitarra eléctrica e da sua morte trágica: «Ele conseguia trabalhar comigo, ao invés de trabalhar em cima do que lhe apresentasse. Era divertido! Depois morreu daquela forma trágica. Nunca esquecerei isso enquanto viver. Essa história que todos sabemos. Mas, quero dizer, ele era apenas um miúdo. Tinha vinte e poucos. Não parece justo… Tenho 70 anos e é desolador pensar que ele morreu tão novo».
Sobre Jake E. Lee, Ozzy foi mais sucinto, rapidamente passando aos elogios a Zakk Wylde. Lembrou que «depois surgiu o Jake E. Lee, outro grande músico. Mas o Zakk era algo à parte! Esse gajo fica cada vez mais rápido. O Zakk é o guitarrista que mais tempo esteve comigo! Tem estado comigo há muito tempo e é um dos melhores amigos que alguma vez tive. Para mim é um membro da família. Se precisasse mesmo dele para algo, podia ligar-lhe e ele diria, ‘Estou aí em cinco minutos’. E vice-versa. O Zakk é muito trabalhador. Trabalha até à exaustão».
RANDY FOREVER
Em 2021, depois de Randy Rhoads ter sido anunciado como um dos nomes que vão entrar no Rock And Roll Hall Of Fame, Ozzy Osbourne prestou homenagem ao lendário guitarrista com quem iniciou a sua carreira a solo e que foi receptáculo do Prémio de Excelência Musica, que é atribuído a artistas, músicos, compositores e produtores cuja originalidade e influência na criação musical tenham tido um impacto significativo na música. E Randy teve. Se o seu período nos Quiet Riot é algo desconhecido fora dos círculos mais desligados do heavy metal, com Ozzy Osbourne,o guitarrista criou canções de aclamação universal e atingiu a plenitude das suas capacidades técnicas e musicais.
Numa conversa com a Rolling Stone, Ozzy disse: «Conheci-o durante muito pouco tempo. Mas o que ele me deu nesse curto espaço de tempo foi de uma grandeza imensurável para caralho. Ter alguém como o Randy Rhoads a tocar em dois álbuns, e que esses dois álbuns continuem a soar tão bem como no dia em que foram gravados, é qualquer coisa. E estou eternamente grato por isso. Só Deus sabe o que aquele homem teria conseguido até hoje. O próprio facto de ele não estar aqui a respirar é simplesmente uma merda de um crime». Ozzy prosegue, feliz pelo reconhecimento de Randy: «Graças a Deus que será reconhecido pelo Rock And Roll Hall Of fame. Finalmente chegou. Lamento que a sua mãe não esteja viva para ver, porque ele era muito próximo da sua mãe. Sei que o seu irmão, Kelle, e a sua irmã, Kathy, vão ficar felicíssimos. É algo que prova que ele não foi esquecido. Ele era um músico dedicado, verdadeiro, e era um tipo encantador. Ainda penso nele o tempo todo».
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