O guitarrista dos Dream Theater, John Petrucci, recorda como se converteu a um amp digital e argumenta que a maioria das pessoas não consegue ouvir a diferença entre amplificadores digitais e valvulados.
Numa era em que as novas tecnologias melhoram a cada dia que passa, a ideia de que os amplificadores a válvulas são indubitavelmente superiores aos seus equivalentes digitais está a começar a ficar desgastada, especialmente quando se sabe que, por exemplo, nomes como Dave Murray, dos Iron Maiden, e Dave Mustaine, dos Megadeth, fizeram a mudança.
Recentemente, num exclusivo com a ROMA INVERSA, Alex Skolnick, shredder de elite, nos Testament e no heavy metal ou em vários projectos jazz, debruçou-se sobre os pesos-pesados da modelação digital (Neural DSP, Kemper, Fractal, Line 6 e outros) e reflectiu sobre a evolução dos simuladores de amplificadores e o futuro dos amplificadores tradicionais. Também John Petrucci, dos Dream Theater, tem estado a trabalhar no domínio digital há já algum tempo e lançou nos últimos tempos a sua própria marca de software de guitarra, chamada Tonemission.
Foi em Julho de 2023 que John Petrucci lançou oficialmente a sua marca de software de guitarra. O virtuoso tornou-se um adepto da tecnologia de criação de perfis digitais e decidiu colocá-la nas mãos de todos através da John Petrucci IR Collection: Vol.1, que é uma colecção com curadoria de respostas de impulso do equipamento do músico, visando replicar o seu som com a maior precisão possível.
Nesta colecção de estreia, John Petrucci disponibilizou IRs baseados nos sons dos últimos três álbuns em que trabalhou: o seu disco a solo “Terminal Velocity”, “LTE3” dos Liquid Tension Experiment e “A View From the Top of the World” dos Dream Theater.
Os sons foram captados em colaboração com o engenheiro e colaborador de longa data do guitarrista, James “Jimmy T” Meslin, que utilizou uma vasta gama de microfones emparelhados com as colunas de John Petrucci para captar um espectro de frequências de gama completa. Esta primeira colecção da Tonemission está disponível por uns 80 dólares e podes consultar mais specs no site oficial.
Evolução
Dada a sua experiência, Petrucci foi questionado durante uma entrevista recente com a Killer Guitar Rigs para citar o momento específico ou descrever o seu processo de pensamento por trás da decisão de começar a usar modeladores digitais. «No que diz respeito ao hardware de modelação, penso que tem estado a funcionar muito bem há muito tempo graças à Fractal [Audio] e ao que estão a fazer com o Axe-FX. Quero dizer, é uma unidade incrível. Há uma série de sons incríveis. Tem sido assim há muitos, muitos anos, e tem vindo a melhorar», começa por dizer John Petrucci.
«Mas sempre que experimentava um plugin de guitarra, se tivesse o DAW aberto, pensava ‘deixa-me experimentar isto’. Não quero mencionar os nomes deste ou daqueles amplificadores. Nunca me serviu para nada. Sempre soou como… Não sei, como um amplificador de brincar ou algo assim», refere sobre a insatisfação que o levou a colaborar com a Tonemission e desenvolver o seu próprio arquétipo de assinatura.

«Estava a ouvir falar muito de coisas da Neural [DSP]. E enviaram-me o Plini Archetype. E lembro-me que o montámos, tínhamos o meu portátil e colunas como qualquer outra pessoa. Comecei a tocar e pensei: ‘Oh meu Deus’. Foi a primeira vez que pensei: ‘Uau, isto soa mesmo bem, parece um amplificador utilizável, uma ferramenta criativa, que sai do meu computador’. E foi a primeira vez que tive essa experiência. Por isso, sabia que se fosse fazer isto e envolver-me neste mundo, seria com essa empresa. Porque acho que a Neural DSP está a fazer tudo muito bem a todos os níveis».
John Petrucci acrescenta: «E sem margem para dúvidas, quando decidimos colaborar e trabalhámos no meu Archetype, fizeram de tudo para criar a melhor suíte de produção de guitarra no mundo dos plugins que já experimentei. E sei que muita gente gosta dele. Por isso, sei que fizemos um óptimo trabalho. Eles [Tonemission] fizeram um óptimo trabalho».
Discernimento
Então, diante do resultado desta assinatura e se ainda há algum aspecto dos amplificadores a vávulas que continua impossível de ser reproduzido pela tecnologia digital, o shredder dos Dream Theater foi taxativo: «Essa é a questão. Acho que ficou tão bom que provavelmente ninguém consegue perceber. Certo? Mas é um tipo de coisa, em que um IR, por exemplo – está a captar um momento no tempo. Mas os amplificadores de guitarra e as colunas num espaço físico real – é uma ocorrência aleatória do que está a acontecer…
Mas, dito isto, algumas das coisas que descubro quando falo com guitarristas – é uma questão de gosto. Porque há tipos que preferem amplificadores físicos e colunas, sempre. E há outros que dizem: ‘Não, eu gosto mais do digital porque me permite fazer isto’ ou ‘Encaixa melhor na minha aplicação para o que estou a fazer’, quer seja ao vivo ou em estúdio», conclui John Petrucci.