Antes de se cimentar como um guru da produção, do folk ao hip-hop, passando pelo thrash, Rick Rubin apaixonou-se por uma banda que ainda hoje é a sua grande referência. «São a maior banda de rock ‘n’ roll de todos os tempos. Não escreviam letras emotivas. Não tocavam canções emotivas. A emoção está toda no groove e esse é intemporal».
Nos últimos anos, Rick Rubin tem-se sentido mais como um xamã da música do que como um produtor. Desde a ressurreição da carreira de Johnny Cash até aos seus primeiros dias de trabalho com os titãs da velha guarda do hip-hop, como os Run-DMC e os Beastie Boys, são poucos os géneros em que Rubin não mergulhou ao longo dos anos. Independentemente de onde a sua musa o levar, Rubin terá sempre um gosto pela música rock da velha guarda.
Muito antes de começar a fazer batidas de hip-hop no seu dormitório na NYU, Rick Rubin já começava a entrar em sintonia com os sons do rock ‘n’ roll, referindo-se aos Beatles como uma das suas memórias mais importantes no que respeita a ouvir música. Embora os Fab Four possam ter contribuído para o seu desenvolvimento musical, os anos seguintes viram-no abraçar o mundo do hard rock.
Enquanto a maioria dos seus amigos gravitava em torno das bandas mais bluesy da época, como os Led Zeppelin, Rick Rubin aventurou-se até aos Antípodas, como confessou à Rolling Stone: «Os meus colegas gostavam todos dos Led Zeppelin, mas eu gostava dos AC/DC. Eles tinham raízes no R&B norte-americano, mas levavam-no a um extremo minimalista». Por mais que os pesos pesados australianos tenham trazido mais atitude para o rock ‘n’ roll, eles nunca pensaram nesses termos.
No que diz respeito aos irmãos Young, eles estavam a seguir os passos de alguns dos seus heróis como Chuck Berry e Elvis Presley, pegando nos blocos de construção do rock ‘n’ roll e colocando um saudável rosnado high gain na equação, além da estridência de Bon Scott e Brian Johnson atrás do microfone. Por entre todo o caos que provocaram no seu tempo, Angus Young ergueu-se como um jovem herói da guitarra, parecendo que exorcizava demónios do seu corpo quando tocava canções como “Problem Child”.
Quando Rick Rubin começou a construir o seu nome como produtor, começou a fundir o seu amor pelo rock ‘n’ roll em batidas de hip-hop, construindo alguns dos primeiros samples de bateria de canções como “When the Levee Breaks”, dos Led Zeppelin, e convencendo os Run-DMC a refazerem a sua versão de “Walk This Way”, dos Aerosmith. Apesar do foco no hip-hop, Rubin sempre se orientou por “Highway to Hell” ao criar alguns dos seus futuros clássicos.
Embora os AC/DC tivessem o seu som definitivo, a sua compreensão de arranjos simples ficou na memória de Rubin, que explica: «Tento criar álbuns que soem tão poderosos quanto ‘Highway to Hell’. Quer esteja a trabalhar com os The Cult ou com os Red Hot Chili Peppers, aplico a mesma fórmula básica: Manter o som escasso». É fácil perceber aquilo a que Rick Rubin se refere, com base no seu trabalho com os Red Hot Chili Peppers, incluindo uma cena do documentário “Funky Monks” em que ensina Flea a atenuar as linhas de baixo para o que viria a ser “Give It Away”.
Esses exercício de contenção não se limitaram às milhares de bandas de rock com as quais Rubin trabalhou. Quando se ouvem algumas das últimas canções em que trabalhou com Johnny Cash, o conceito “menos é mais” é perfeito em “Hurt” (original de NIN), enquanto o “The Man in Black” conta as últimas partes da sua vida em solene pormenorização.
A todos os grandes artistas que procuram conselho por detrás da barba grisalha de Rick Rubin, este continua a recordar os AC/DC como uma das suas fundações musicais, dizendo: «São a maior banda de rock ‘n’ roll de todos os tempos. Não escreviam letras emotivas. Não tocavam canções emotivas. A emoção está toda no groove e esse é intemporal».