Ghost, Os Ciclos de Morte & Renascimento de Impera

O 5º álbum dos Ghost vai muito além da sua vibrante energia musical, mergulhando na superabundância da simbologia alquímica, teosófica e arcana e do oculto. Para os não iniciados, tentamos trazer alguma luz hermenêutica a “Impera”.

O bombástico novo álbum dos Ghost estreou no passado dia 11 de Março de 2022. «Desde a sobrecarga melódica da introdução e o lick inicial e propulsividade rítmica do banger de abertura “Kaisarion”, em “Impera” Tobias Forge amplifica tudo o que trouxe os Ghost até aqui», pode ler-se na nossa extensa review ao 5º disco dos suecos. Já no passado dia 15 de Setembro, a banda anunciou a sua adesão à edição Record Store Day #RSDBlackFriday deste ano, com o lançamento de uma versão Picturedisc de “Impera”, que estará disponível em apenas algumas lojas independentes, promete a banda, antes de recomendar a verificação de mais informações e as lojas aderentes no link recordstoreday.com.

É uma excelente oportunidade para, depois da review mais focada na música de “Impera”, fazermos uma releitura da riqueza de detalhes e simbolismos visuais e líricos, criados por Tobias Forge & co. Desde logo, a capa divulgada mostra uma imagem do Papa Emeritus IV, uma espécie de ídolo em construção, como o infame bezerro de ouro do Êxodo, e numa pose que é associada a Aleister Crowley e ao seu conceito da Noite de Pan, também conhecida como N.O.X., um «estado místico que representa a fase de ‘morte do ego’ no processo de realização espiritual». Noção que provém da divindade grega Pan, comumente associada à natureza e ao desejo, além do poder gerador masculino. Por isso, dentro da Thelema, é vista como a entidade que dá e tira a vida, estando ligada a um estado de transcendência de limitações e unificação com o Universo.

Tobias Forge descreveu “Impera” como um álbum conceptual sobre a queda de impérios. De promessas pseudo messiânicas e reinados de charlatões sobre as massas brutificadas. No fundo musical maníaco de “Twenties” isso soa tudo apropriado, com a sua propulsividade em claro contraste com o hipnótico “Call Me Little Sunshine”. Chega a ser profeticamente bizarro, ainda que absolutamente acidental (?), considerado o drama que se desenrola em solo europeu, o teor apocalítico que o “Twenties” encerra.

Estes ciclos eternos de vida, decadência, morte e renascimento podem ser intuidos, musicalmente, na melodia final de “Respite On The Spitalfields” e na introdução de “Imperium”, os temas que encerram e abrem o álbum, respectivamente. Portanto, depois da queda do Império/Impera, ouvindo em loop ou virando o vinil novamente para o lado A, tornamos a ouvir a ascensão de um novo potentado, saído das cinzas e ruínas do anterior. Mais, podem começar pela ascensão ou pelo declínio, pois Forge criou duas introduções. Isto faz mais sentido no vinil. Repare-se: “Watcher In The Sky” (lado A, da ascensão) e “Respite On The Spitalfields” fecham com fade out. São, aliás, as únicas canções do disco às quais foi aplicado fade out.

Esta noção arcana do eterno retorno, que Nietzsche adequou ao pensamento contemporâneo. De que toda a existência e energia são recorrentes e continuarão a ocorrer, de forma autossemelhante e infinitamente através do tempo e espaço, da existência de um padrão cíclico de certas recorrências, está bem exposta nas soberbas ilustrações do extraordinário ilustrador/arquitecto Zbigniew M. Bielak.

Por exemplo, a pré-determinação que nos mostra a ilustração de “Watcher In The Sky”, um tributo ao Flammarion, na qual o Grande Arquitecto compassa a redoma da realidade. Na primeira ilustração ou gravura, tal como na última, vê-se uma carruagem. Na primeira, a carruagem vem pela esquerda, em direcção à urbe e ao nascer do sol. Na última, regressa pela direita, abandonando as trevas e o declínio. Após “Dominio”, voltando a “Twenties”. É o coro com maior número de vozes que, pode deduzir-se, pretendem representar marionetas do governo actual, parasitas do poder, laudando quaisquer promessas inócuas do imperador (por imbecil que seja) e, ao mesmo tempo, posicionando-se em redor daquela que for eleita ou nomeada como sucessora. Como, no final de tudo isto, se torna difícil acreditar em coincidências, uma das vozes no coro é a de Minou Forge, a filha de Tobias…

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