O surpreendente álbum pop dos Mars Volta, o magnetismo dos Ghost, o all-stars de Ozzy e a capacidade de Björk constantemente forçar as barreiras da música moderna. Estes são os nossos álbuns preferidos, editados extra-muros, em 2022.
Em relação à nossa lista AOTY dos discos criados em Portugal, esta lista retrata ainda mais as preferências pessoais deste vosso escriba e tem menos em consideração outros critérios. Teria sempre que ser assim, considerando a escala de uma tarefa destas – afinal, quem terá ouvido, pelo menos, 10% de toda a música que foi editada internacionalmente em 2022? De qualquer forma, há discos incontornáveis. No espectro do rock ou da música alternativa havia desde logo o regresso dos Mars Volta e um novo trabalho de Ozzy Osbourne, por exemplo, e que não podiam ser ignorados.
Ainda assim, o rei disto tudo (ou, se permitem o trocadilho fatela, o imperador) foi “Impera”. O 5º álbum dos Ghost vai muito além da sua vibrante energia musical, mergulhando na superabundância da simbologia alquímica, teosófica e arcana e do oculto. Para os não iniciados, tentámos trazer alguma luz hermenêutica a “Impera”, analisando as soberbas ilustrações do extraordinário arquitecto Zbigniew M. Bielak e outros detalhes do álbum. Isto além da review mais dedicada à música propriamente dita de “Impera”. Seja como for, para a ROMA INVERSA, é o “Álbum do Ano”.
Os discos restantes nesta lista de 15, não seguem qualquer ordem específica. Vamos lá…
“O álbum”Impera” foi produzido por Klas Åhlund e misturado por Andy Wallace. O produtor regressa depois de ter trabalhado em “Meliora”, que era o álbum onde se sentia o maior pulo evolutivo dos Ghost. Agora, como aconteceu entre “Infestissumam” e esse trabalho, torna a suceder entre “Prequelle” e este. Um enorme salto, talvez ainda maior, ainda que atenuado pela progressiva e cerebralmente delineada introdução de synths na sonoridade dos suecos ao longo da sua discografia. A capacidade do produtor em arredondar malhas, em criar autênticas bombas de açúcar auditivo, é notória na sua própria discografia, onde se incluem trabalhos com Robyn, Sugababes, Eagle-Eye Cherry, Kesha, Kylie Minogue, Britney Spears, Katy Perry e Madonna, entre outros. Essa capacidade, junto da que Tobias Forge tem demonstrado ao logo de uma década para sacar refrães antémicos, nota-se desde as primeiras notas de “Imperium”, a introdução instrumental do álbum, e das melodias iniciais de guitarra e a explosiva propulsividade rítmica de “Kaisarion”, o malhão que abre o disco. A partir daí, o balanço segue impossível de abrandar. As referências estéticas são imensas, como se depreende de “Spillways” e dos seus pianos que evocam “Hold The Line” dos Toto ou “Runaway” dos Bon Jovi. Também dos compassos bem demarcados, com o cruzamento de guitarras e sintetização, de “Watcher In The Sky” que remetem para os ambientes clássicos do AOR, de Reo Speedwagon ou dos Journey. Esse sentimento regressa mais perto do final, em “Griftwood”. Depois, as bandas de rock contemporâneas parecem ter deixado cair uma das maiores armas de arremesso do género: a power ballad. Por pretensões de peso ou snobismo. Mas fazem mal, porque nada cativa o mainstream como um baladão e Forge, atento estudioso do cânone sabe bem disso, como prova em “Darkness At The Heart Of My Love”.
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Para gravar “Patient Number 9”, Ozzy reuniu uma constelação de estrelas da guitarra eléctrica. Melhor, uma galáxia de lendas das seis cordas, contabndo com contribuições de Eric Clapton, Jeff Beck, Tony Iommi, Mike McCready e Zakk Wylde. Andrew Watt tornou a assumir a produção e guitarras também e, à semelhança do disco de há dois anos, o novo álbum vai apresentar uma banda de apoio all-star que conta com Chad Smith e Taylor Hawkins (entretanto falecido) nas baterias e com os baixistas Robert Trujillo, Duff McKagan e Chris Chaney. No podcast OzzySpeaks, Osbourne confessou ainda que Eric Clapton hesitou em aceitar esta colaboração, devido a uma das letras do álbum referir-se a Jesus Cristo e deixar o Slowhand algo desconfortável mas, segundo o Príncipe da Trevas, «no final correu tudo bem e o solo de guitarra dele é muito bom». Na verdade, não só é um bom solo como é sonicamente refrescante na discografia de Ozzy. Com o talento de Jeff Beck, “Patient Number 9” é um malhão que tem tudo para se tornar um clássico instantâneo do icónico frontman. Aqueles dedilhados carregados de chorus, profundidade épica de reverbs, grandes solos de guitarra, refrão super orelhudo. Enfim, as marcas que vincaram o som de Ozzy ao longo de décadas. Já “A Thousand Shades” é menos impactante, mas o solo é fenomenal. Entre os destaques maiores está também “Degradation Rules”, um dos dois temas com a colaboração de Tony Iommi, o guardião da herança de Black Sabbath. E, de facto, o riffing de Iommi e até as harmónicas usadas por Ozzy remetem-nos para o som da lendária banda de Birmingham e evocam um tema como “The Wizard”, por exemplo. “Parasite”, “Nothing Feels Right” ou Evil Shuffle” (esta menos) trazem-nos para território familiar, pontificando Zakk Wylde nas guitarras e uma estética que parece transportada da era “Ozzmosis” e ainda com um leve aroma a “No More Tears”. Depois, há temas menos memoráveis, mas o álbum é bem equilibrado e sólido.
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“The Mars Volta” é o álbum pop da banda – um termo maleável, especialmente nas mãos de revolucionários artísticos como Rodríguez-López e Bixler-Zavala. Ainda assim, ouçam com atenção a azáfama sombria de “Backlight Shine”, as pulsações paranóicas de “Graveyard Love”, os refrões ressonantes e ruinosos de “Vigil” ou a angústia de Cedric em “Collapsible Shoulders”. Construído sobre estruturas tradicionais, com ganchos brilhantes, coros ousados, melodias que o cérebro vai tentar desvendar durante o sono, as canções de “The Mars Volta” são, inegavelmente, canções pop. Que não restem dúvidas, a música deste “The Mars Volta” é notável e uma visionária inversão por parte do imensamente inventivo Rodríguez-López. E embora a sua produção despida convide o ouvinte a observar o quadro e não os seus meticulosos detalhes, o álbum contém arrebatadores pormenores em cada canto: os sintetizadores que envolvem “Graveyard Love” como trepadeiras ou o piano salsa e a percussão densa e pesada que dão a “Que Dios Te Maldiga Mi Corazon” o seu irresistível charme. E não subestimem a perícia necessária para produzir música lúcida com tal acessibilidade, sem sufocar a enorme turbulência que se sente nas suas profundezas.
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O 10º álbum de estúdio de Machine Head, “ØF KINGDØM AND CRØWN”, chegou no dia 26 de Agosto de 2022. Previamente anunciado como uma espécie de segundo “The Blackening” – o épico e conceptual álbum de 2007, considerado por muitos fãs como o melhor disco da banda (por aqui permanece o primeiro disco com esse estatuto). Nesse sentido, também este trabalho será conceptual, com uma intensa reflexão antropológica, inspirada na celebrada série anime e manga japonesas “Attack On Titan” (進撃の巨人, ”Shingeki no Kyojin”). No Facebook oficial dos Machine Head são descritos os personagens da narrativa, reconhecendo-se imediatamente outra influência, a da mitologia clássica, através dos nomes evocativos das divindades da Guerra e do Amor. Passional e cerebral, todo o álbum é um blaster de riffs vibrantes e frenéticos, pinch harmonics e shred. Sem dúvida, um dos melhores concebidos por Robb Flynn que, como bónus, também liderou os Machine Head naquele que foi, provavelmente, o melhor concerto de metal/rock do ano no nosso país!
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“Premonition” versa sobre nascimento e renascimento. Sobre deixar para trás o niilismo enquanto se recusa abdicar da liberdade que este oferece. Trata-se de vociferar contra o mundo enquanto ainda se encontra espaço dentro dele para a esperança e o amor. Trata-se de crescer – e envelhecer – sem perder a furiosa energia da juventude. Trata-se de um grupo de artistas que se mantêm unidos há uma década e meia de surpreendentes e, por vezes, contrastantes altos e baixos. É o último álbum que vamos receber de uma das melhores bandas a fazer álbuns nos últimos anos. Caótico, arrojado e cheio de ganchos melódicos, “Premonition” é um turbilhão sónico de bateria impactantes, trabalho intrincado de guitarra e letras sem limites sobre maternidade, gravidez e evolução. Os temas são bastante profundos. A interacção entre o guitarrista Kenneth William e a baterista Anne-Marie Vassiliou é mais complexa, o som mais coeso. Durante um hiato involuntário de cinco anos, os White Lung conseguiram crescer sem se acomodarem e o trio saiu do seu período transformador com uma energia bruta e selvagem.
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Escrito em reclusão, em Londres, em 2021, “Hellfire” suporta-se sobre os elementos melódicos e harmónicos do seu antecessor, enquanto aumenta a brutalidade e intensidade do álbum de estreia, “Schlagenheim”. Como Greep o descreve, «se ‘Cavalcade’ foi um drama, ‘Hellfire’ é como um filme de acção épica» que se debruça sobre temas sobrepostos de dor, perda e angústia. É o seu álbum mais tematicamente coeso e intencional até agora, refere o press release da label. Enquanto as histórias de “Cavalcade” estão contadas na terceira pessoa, “Hellfire” é apresentado na primeira pessoa e conta as histórias de personagens moralmente suspeitas. Há monólogos dramáticos que apelam, de forma exuberante, ao degradado sentido do certo e do errado do mundo actual. Nunca se sabe ao certo se se deve rir ou ficar horrorizado. A criação de “Hellfire” levou seis meses, brotando de um riff de uma das mais antigas jams do grupo e florescendo no drama futurista de boxe, “Sugar/Tzu”. A abrangência, força e a potência de produção da música dos black midi nunca foi maior do que neste “Hellfire”, em parte graças à produtora Marta Salogni, que trabalhou com a banda na abertura do álbum anterior, “John L.”. Mas, como sempre, o tipo de música que os black midi tocam não é tão importante como a sua qualidade. E o que quer que se pense sobre a música da banda não é tão importante como o aquilo que se sente a ouvi-la.
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O tão esperado primeiro álbum de dois lançados por Jack White em 2022 chama-se “Fear of the Dawn” e é assumidamente um disco de rock cheio de riffs eletrizantes, enquanto que “Entering Heaven Alive” é um disco mais acústico. Talvez sejam duas faces da mesma moeda, mas o peso e o balanço das 12 faixas de “Fear of the Dawn” é muito mais impactante e exploratório, como tão bem ilustra uma canção como “Hi-De-Ho”, colaboração com Q-Tip, cuja génese remonta a 2016 quando o rapper recrutou White para trabalhar no álbum final de estúdio de A Tribe Called Quest, “We Got It from Here… Thank You 4 Your Service”. «Sempre que me foco num projecto, estou a tentar fazer algo que nunca tenho feito antes», afirmou Jack sobre o novo álbum numa entrevista com a Apple Music. «Este álbum sou eu a tocar todos os instrumentos em muitas faixas. Apenas com base no confinamento e não poder realmente fazer sessões com outras pessoas. É difícil … Cometi erros. Gravava a bateria por último, o que não é suposto fazer. Mas depois comecei a alimentar-me disso. Pensei, ‘gosto disto’. Gostei que estivesse errado». Quando Jack White se preparava para a digressão “Suply Chain Issues”, e mostrou a banda com a qual está a trabalhar, aproveitámos e descrevemos os pedais que White está a usar neste disco.
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“Heavy Pendulum”, editado via Relapse Records, é o primeiro álbum da banda em mais de uma década. Os Cave In (Stephen Brodsky – Guitarra/Voz, Adam McGrath – Guitarra/Voz, John-Robert Conners – Bateria) ganharam novo fôlego com o recrutamento de Nate Newton (Converge, Doomriders, Old Man Gloom) como baixista. Aliás, o disco acabou por ser produzido e gravado por Kurt Ballou nos God City. O álbum faz prova de tudo aquilo que há muito estabeleceu os Cave In como uma das melhores bandas contemporâneas dentro do rock, hardcore e metal, desde que se estrearam em 1998 com “Until Your Heart Stops”. Desde malhas tão impulsivas como “New Reality”, o esmagador tema de abertura do álbum, aos contornos metálicos de “Blood Spiller”, “Heavy Pendulum” mostra os Cave In a fazerem uma retrospectiva à sua discografia e captar os seus momentos mais memoráveis, viscerais e vanguardistas, para criar um disco que é simultaneamente familiar e muito além do mainstream.
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“The Long Road North” chegou no dia 11 de Fevereiro de 2022, através da Metal Blade Records. O álbum sucede ao EP “The Raging River”, que foi editado nos primeiros meses de 2021. «O longo caminho para o norte é uma longa estrada para casa. Um caminho ditado por uma chamada que penetra nas rochas e ecoa pela floresta», elabora o vocalista e guitarrista Johannes Persson. «Ele flui sobre todos os lagos, acelerado pelo vento. Quando chega até vocês, toda a gente percebe que está na hora. É o momento de seguir em frente. Até podemos não saber onde nos vai levar, mas confiamos nele. Com os olhos erguidos em direcção ao sol da meia-noite, ele puxa-te para mais perto. A estrada é longa e o fim é incerto». Carregado com uma tremenda parede de amplificação e com a deslumbrante densidade atmosférica, é um discão de ambientes épicos, que vem, uma vez mais, sublinhar o peso avassalador e a intensidade da arte do colectivo sueco, que após mais de duas décadas no activo se encontra num momento criativo fulgurante. E de facto, possui peso e melodia como só é possível verificar neste espectro musical, esta que é a mais recente diligência numa discografia que compreende peças essenciais como “Salvation”, “Somewhere Along the Highway” ou “Vertikal“.
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Há cerca de dois anos, os SOM – colectivo que congrega músicos dos Caspian, Junius e Constants – deram-se a conhecer através desse etéreo single que é “Youth // Decay” e do EP que se lhe seguiu, “Awake”. Com uma inegável inspiração nos Deftones, o grupo funde atmosferas shoegaze e post metal, com notável beleza e groove. Em 21 de Janeiro de 2022, chegou o primeiro LP da banda, “The Shape of Everything”, através da Pelagic Records. Disco cheio de lindíssimos dedilhados de guitarra, riffs pesados, progressões melódicas cativantes e batidas directas, quase como post metal pop – capaz, portanto, de agradar a um alargado espectro de melómanos, desde aqueles mais adeptos de Sólstafir ou Alcest até aos que surgem nas barreiras frente aos palcos dos grandes festivais de Verão para ver Tame Impala. «As vozes foram originalmente criadas para outro projecto que acabou por ser arquivado, mas gostei muito do que tinha criado e não podia simplesmente deixá-lo num disco rígido a morrer», refere o frontman Will Benoit que, sobre os refrães quase pop, afima: «Adoro canções que se apresentam de uma forma à primeira audição, mas podem levar-nos a um sítio completamente diferente, quanto mais prestamos atenção. Senti que havia espaço em ‘The Shape of Everything’ para explorar uma tonalidade ligeiramente diferente como esta, mas além das vozes, honestamente, não conseguia vislumbrar para onde poderia ser levado musicalmente».
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O ambiente etéreo e nefelibata de dinâmicas suaves ao longo de todo o álbum e os contrastes que emergem da ferocidade eléctrica com alguns momentos dentro do black metal, revelam a maturidade da multi-instrumentista norueguesa Kathrine Shepard, que se estreou apenas em 2014, com “Silent Chamber, Noisy Heart”, em 2014, e tem editado regularmente, nomeadamente os bastante laudados álbuns “Wistful” e “Atoms Aligned, Coming Undone”, de 2016 e 2018, respectivamente. Neste seu novo álbum, Sylvaine solidifica as suas credenciais de compositora no domínio do metal mais atmosférico, com um foco abrangente que se alarga do shoegaze ao folk, passando pelo doom e o black metal. Katherine assumiu não só as composições, mas também a granded maioria da instrumentação, entregando apenas as baterias a Dorian Mansiaux, que a tem acompanhado ao vivo. Ao longo de seis canções, somos conduzidos numa viagem de enorme carga emocional, que nos faz oscilar entre uma neo-espiritualidade, momentos de meditação e ainda de uma vunerabilidade crua. A ligar tudo surgem os momentos em que Katherine assume vozes angelicais, encantadoras, que surgem como um movimento catártico entre as entoações feéricas e o peso das camadas instrumentais.
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A 18 de Novembro de 2022, a Sub Pop editou o espantoso novo álbum de Weyes Blood, “And In The Darkness, Hearts Aglow”. As dez composições do álbum foram escritas por Natalie Mering, que também assumiu a produção juntamente com Jonathan Rado em todas as canções excepto “A Given Thing”, produzida por Mering e Rodaidh McDonald. “And In The Darkness, Hearts Aglow” foi misturado por Kenny Gilmore no 101 Studio e masterizado por Emily Lazar e Chris Allgood no The Lodge, e apresenta participações de Meg Duffy, Daniel Lopatin e Mary Lattimore. O álbum é o seu seguimento do aclamado “Titanic Rising”, o primeiro de três discos numa trilogia especial. E onde “Titanic” foi uma contemplação de desgraças vindouras, “And In The Darkness, Hearts Aglow” é sobre estar no meio desse turbilhão: uma busca por uma escotilha de fuga para nos libertar de algoritmos e caos ideológico (spoiler alert: o próximo será sobre a esperança). «Estamos num mundo de merda totalmente funcional», diz Mering. «O meu coração é como uma vara de néon que foi rachada, iluminando o meu peito numa explosão de honestidade».
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Micologista apaixonada, Björk apelidou “Fossora” como o seu “álbum de cogumelos” – terrestre, orgânico e reminiscente do círculo da vida. Os músicos por detrás de “Fossora” incluem um sexteto de clarinetes-baixo, batidas criadas pela dupla de dança indonésia Gabber Modus Operandi e vocais do seu filho Sindri, da sua filha Ísadóra, e do músico Serpentwithfeet. A falecida mãe de Björk tem dois créditos de composição de canções, tornando as referências do álbum à vida e à morte ainda mais pungentes. Sobre “Ancestress” e sobre a sua mãe, nas suas redes sociais, a artista descreve: «Foi escrita logo a seguir ao seu funeral e é provavelmente uma reacção comum de um músico, o impulso de fazer a sua versão da história. […] Esta canção é uma carta à minha mãe, a sua história vista do meu ponto de vista. Está escrita em ordem cronológica, o primeiro verso é a minha infância e assim por diante». O sucessor de “Utopia” [2017] foi editado no dia 30 de Setembro de 2022, via One Little Independent Records. A capa de “Fossora” foi descrita como uma imagem da cantora retratando «um duende da floresta brilhante, com as pontas dos dedos fundindo-se com os fantásticos fungos debaixo dos seus cascos».
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“Arkhon”, o novo álbum de Zola Jesus, encontra novas formas de libertar essa dor submersa e estagnada. Pouco tempo após ter começado a escrever as canções que iriam compor o disco, Danilova viu-se diante uma barragem criativa, um feitiço de bloqueio de escritor mais asfixiante do que qualquer outro que já tinha experimentado antes. «Chegou ao ponto em que nem sequer conseguia ouvir música. Tudo soava igual», diz. Em álbuns anteriores, Danilova sempre desempenhara em grande parte o papel de autora, elaborando meticulosamente todos os aspectos do som e do olhar de Zola Jesus. Desta vez, percebeu que a sua necessidade habitual de controlo a estava a fechar do lado de fora da sua arte. Quando a frustração de não conseguir criar se tornou intolerável, deu um salto de fé e pediu auxílio, algo que nunca tinha feito tão vespertinamente na vida de um álbum. «A certa altura, tive de trabalhar com outros. Precisava de sangue novo. Precisava de outra pessoa». Danilova enviou as suas demos ao produtor Randall Dunn, conhecido pelo seu trabalho com Sunn O))) e na partitura de Jóhann Jóhannsson para o filme “Mandy”. Também começou a colaborar com o baterista e percussionista Matt Chamberlain, cujo trabalho surge em álbuns de Fiona Apple, Bob Dylan e David Bowie. A sua ousadia e a sua inquietude vieram ajudar a definir o som do disco. Abdicando de um grau de controlo sobre a sua música e ouvindo outros a contribuir para ela, [Danilova] começou a descongelar o bloqueio criativo que a tinha impedido de trabalhar. «Senti que finalmente conseguia ouvir a minha música num contexto que era mais amplo do que aquilo que podia fazer sozinha», diz. «Estou a permitir que as pessoas interpretem as minhas ideias musicais e as minhas canções de uma forma que sustenta tudo, mas também a expandi-las para um som que nunca teria sido capaz de pensar por mim própria. Isso foi muito gratificante de ouvir».
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A trajectória ascendente dos Messa atingiu o seu zénite neste imenso álbum que é “Close”. Tendo partido do underground italiano devoto do doom e post metal, em 2014, os Messa rapidamente conquistaram um following para a sua monumental e ampla arte sónica. O lançamento de dois discos de culto amplamente laudados, o último dos quais “Feast For Water”, em 2018, fez furor até junto da crítica, com a Rolling Stone a referir-se ao álbum como «cativante, extraindo máxima tensão dramática dos seus choques estéticos». Por isso, as expectativas em torno dos Messa e do seu trabalho seguinte eram, no mínimo, bastante elevadas. O novo álbum “Close” envolve-nos ainda mais nas texturas encantadoras e dinâmicas imersivas da banda. Descritos como «Stevie Nicks em frente dos Black Sabbath», a voz colossal da vocalista Sara transporta, omnipotente, o ouvinte numa emocionante montanha-russa dentro de um efervescente caldeirão sónico em que guitarras à Iommi dão lugar ao oudh árabe e a estruturas progressivas nessa idiossincrasia que é a fusão de estilos e estéticas. Exercício magistral, mantém intacta a reputação incendiária dos Messa.
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