Gruesome Records

Pérolas Imundas do Underground #13

Gente danada faz som danado. Nesta rubrica revemos alguns dos mais extraordinários trabalhos criados por músicos portugueses, devotos de volume e distorção extremos, de paisagens sónicas escuras ou violentas e do Grande Bode. Neste volume, o foco incide na editora portuense Gruesome Records.

É comum dizê-lo, como será em todos os países, que o underground metaleiro nacional tem evoluído muito. Mas quem está familiarizado com a cena heavy portuguesa sabe que depois dos picos de intensidade no início dos anos 90 e alguns apontamentos esporádicos na década seguinte, os grandes discos de música extrema portuguesa não surgiam num fluxo constante. Felizmente, na última década, as coisas mudaram e há cada vez mais bandas e lançamentos com padrões bem elevados na composição, na atitude e nos aspectos sónicos, seja nas proezas instrumentais ou no enorme salto nos valores de produção que advieram da democratização das ferramentas de gravação.

Ainda assim, o metal continua a ser um género bastante guetizado em Portugal e há discos que passam despercebidos aos mais desatentos, quando deveriam ser alvos dos maiores louvores. É isso que pretendemos nesta rubrica. Para visitar os volumes anteriores, entrem nos seguintes links: Primeiro VolumeSegundo VolumeTerceiro VolumeQuarto VolumeQuinto VolumeSexto VolumeSétimo VolumeOitavo VolumeNono VolumeDécimo Volume; Décimo Primeiro Volume e o Especial SWR 23.

Desta feita focamo-nos num projecto surgido na pandemia, mas que tem vindo a estabelecer-se de forma sustentada. A Gruesome Records, editora indie nacional, tem vindo a preencher de forma significativa o seu catálogo desde o ano 2020. O selo sediado na cidade Invicta apresentou já títulos de nomes como Boulder, Law Of Contagion, Redemptus, VØIDWOMB, Pitch Black ou Basalto. São já mais de três dezenas de edições de bandas oriundas de países como Finlândia, Espanha, Inglaterra, Itália, Turquia, Tunísia, Colômbia, Brasil, Estados Unidos e Suécia, além da grande maioria oriunda de Portugal. Há muito para descobrir na Gruesome Records, estas são apenas cinco escolhas…

Elitium, “Wrong” | Há uma corrente que nos diz que o death metal, quanto mais brutal, melhor. A selvática descarga de peso propulsivo de “Humus”, com o baterista Jordi Lopes a escavacar tudo o que se mexe no espaço deixado pelos riffs Diogo Agapito, parece dar razão a essa corrente. “Tasteless” é mais uma besta de peso, mas a ferocidade passa a sentir-se mais cerebral, há um sentido mais melódico e maior desenvolvimento de texturas, quer nas harmonizações, quer no preenchimento harmónico. “Putative Insurgency” reforça esta ideia, de maior estruturação, com pungentes breakdowns a criar maior intensidade dinâmica e contrastes com as sombras atmosféricas do som dos Elitium. (REVIEW COMPLETA)

Basalto, “Doença” | Numa era de filtros, de cosmética e de uniformização de produções, os Basalto colocaram-nos diante da barbárie sónica, através de um som monolítico e cru, sinestésico do planalto granítico da Beira Alta. A sua viagem discográfica, iniciada pelo trabalho homónimo de 2016, tem vindo a revelar progressivamente a coesão do trio de músicos. “Doença” (2018), remisturado e reeditado pela Gruesome Records em 2020, mostra uma emancipação de identidade bem fundamentada na exploração do peso através do desenvolvimento harmónico e da paulatina convicção estrutural em detrimento do improviso. Ainda que o sentido jam de um palco pareça permanecer como o mais indicado ponto para o magmático carácter dos Basalto, disparando este disco devem preparar-se para uma proverbial sova.

Lord Of Confusion, “Evil Mystery” | O quarteto define-se como doom, com influências de rock psicadélico. Carlota Sousa, na voz e teclas, Danilo, na guitarra, Nelson Figueiredo, na bateria, e João Fonseca, no baixo, gravaram este que é primeiro álbum da banda e que foi produzido no Garage 16 Studio. É uma edição conjunta da Gruesome Records com a independente norte-americana Morbid And Miserable Records. “Evil Mistery” agradará a fãs de Pentagram, Sleep, Saint Vitus, Electric Wizard ou Black Widow. Chegou dia 30 de Setembro de 2022 e, dizemos nós, é ideal se são daquela malta que, mal acorda, come o “Master Of Reality” ao pequeno-almoço.

Hunted Scriptum, “Paracusia” | Formados em 2005, os Hunted Scriptum rapidamente encontraram o seu caminho sónico: Death Metal tradicional sem grandes compromissos. A banda enfrentou uma década de concertos, incluindo uma digressão europeia com os brasileiros Woslom, a refinar a sua agressividade. Então, em 2022, surgiu o álbum de estreia numa junção de forças entre a Gruesome Records e a Nox Liberatio Records. Intitulado “Paracusia”, o disco transporta em si os miasmas e o groove old school do death metal de lendas como Cannibal Corpse, Benighted, Suffocation ou Six Feet Under nos seus primórdios. Executado com know how e tremendo groove e gravado pelo nosso querido Pedro “Grave” Alves. No player anterior, podem conferir a acutilância técnica da banda e a sua desenvoltura dinâmica.

Law Of Contagion, “Woeful Litanies From The Nether Realms” | O disco irrompeu em 2020, originalmente com o selo da Moribund Records e, mais tarde, editado em cassete pela Gruesome Records, com Ishkur como protagonista. O músico, à semelhança de muitos dos seus pares, possui um vasto currículo, actuando com alguns nomes no presente. Nefret, Wisful, Arges, Aktivehate, Revage, Sonneilon, Acceptus Noctifer, Cold Dark Matter e Durindana são apenas alguns. Numa altura em que o black metal tem a sua produção essencialmente a sul e em que o movimento nortenho parece esmorecer, os Law Of Contagion integram uma escassa lista de nomes da região com edição no exterior. Oferecendo um black metal monolítico, violento e com ligeiros apontamentos sinfónicos, sentem-se reminiscências dos Watain ou dos Marduk.

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