Guns N’ Fn’ Roses, Appetite For Destruction

Um barril de pólvora criado por cinco putos irascíveis que gastavam cada dólar que conseguiam meter no bolso em bourbon e vinho rasca, cocaína e heroína. O rei dos álbuns sleazy. “Appetite For Destruction”, o disco de estreia dos Guns N’ Roses, foi editado a 21 de Julho de 1987.

Um dos álbuns de estreia de maior sucesso de sempre em aclamação crítica e vendas (mantendo-se como o álbum de estreia mais vendido de sempre nos EUA, além de somar mais de 30 milhões de cópias em todo o mundo), que continua ainda hoje a bater recordes comerciais.

Além disso, as sessões de “Appetite For Destruction” foram, ao jeito dos Guns, uma espécie daquilo que Headley Grange foi para os Led Zeppelin, tendo ainda aí surgido (colocadas de lado no alinhamento final) várias composições da banda, como a épica “Civil War”, as pedradas “You Could Be Mine” ou “Back Off Bitch”, além de um esboço, ainda sem a magnitude orquestral, de “November Rain” (a banda considerou que, além de “Sweet Child O’ Mine, seriam baladas a mais no disco).

Foi até totalmente descartado esse malhão que é “Shadow Of Your Love”. Originalmente gravado em 1986, num histórico e há muito extinto estúdio de Hollywood, o Pasha Music House, o tema nem é bem dos Guns – é da sua anterior encarnação, os Hollywood Rose antes da chegada de Duff McKagan, embora este já o tenha gravado. Eram os dias da banda mais perigosa do mundo, eram os dias do apetite por destruição, cujas sessões de estúdio criaram não só o primeiro EP na UZI, como o fabuloso álbum de estreia da banda, depois “Lies” e muito daquilo que chegou ao imponente quádruplo LP “Use Your Illusion”.

O álbum vive de um turbilhão de emoções numa tempestade de fogo, electricidade e espírito marginal. Exsuda autenticidade. O sitz im leben de “Appetite For Destruction” é o que torna o álbum único e irrepetível. Um álbum escrito por rufias das sarjetas de Los Angeles, uma cidade que estava no seu auge de luxúria na década de 80 e na qual cinco putos irascíveis gastavam cada dólar que conseguiam meter no bolso em bourbon e vinho rasca (“Nightrain” presta homenagem a uma dessas zurrapas), cocaína e heroína. Vadios que dormiam na garagem onde ensaiavam ou em casa de strippers ou actrizes porno atraídas por aquela ferocidade juvenil. Esses rufias ascenderam ao trono de LA e da indústria musical, ao paraíso. O verdadeiro rock ‘n’ roll dream.

Fala-se na produção de um filme a retratar essa época, em que cinco putos irascíveis gastavam cada dólar que conseguiam em bourbon e vinho rasca (“Nightrain” presta homenagem a uma dessas zurrapas), cocaína e heroína. Enquanto não chega o filme, talvez isto seja a next best thing. «Abrangente e multifacetado», o novo podcast em vídeo fornece relatos em primeira mão da história da origem dos Guns N’ Roses, a sua ascensão na Sunset Strip e a composição de “Appetite For Destruction”. Marc Canter fotografou toda a jornada da banda na Sunset Strip, começando com as bandas de garagem de Slash em 1981 e terminando quando os GN’R lançam “Appetite” e partem depois na primeira digressão internacional com os The Cult, em 1987.

“Appetite For Destruction” não tem uma música má. Toda a gente o conhece e sabe de cor duas ou três canções – “Sweet Child O’ Mine” é considerada uma das melhores canções de sempre, em várias listas, e Slash nem sequer gostava da canção e da introdução de guitarra, que surgiu por acidente e se tornou uma das frases musicais mais conhecidas no mundo. Num álbum explosivo e cuja crueza, ainda hoje, é altamente louvada, a doçura melódica de “Sweet Child o’ Mine” surgiu como um acaso nas sessões de composição. Slash estava apenas a aquecer através de uma brincadeira. Axl Rose ilustrou a sua devoção platónica a Erin Everly.

SWEET CHILD O’ MINE

O guitarrista dos Guns N’ Roses, durante muitos anos, confessou o seu desdém pela canção. No entanto, isso nunca impediu Slash de a tornar um estandarte também nas suas actuações pós-Guns. Aquele lead inicial tornou-se uma das linhas de guitarra mais conhecidas mundialmente, deu a Slash uma assinatura sonora que o elevou ao panteão dos maiores ícones da guitarra, ajudou a catapultar “Appetite For Destruction” e, sendo o terceiro single do álbum de estreia, foi o único single dos Guns N’ Roses a alguma vez ocupar o primeiro lugar na Billboard norte-americana. “Sweet Child o’ Mine” surge em incontáveis listas como uma das melhores canções de sempre.

Quando estavam a escrever e a ensaiar aquele que seria o seu álbum de estreia, os Guns N’ Roses já possuíam uma longa e merecida reputação de bad boys, com um historial de abuso de substâncias, de caos nos concertos e mesmo de algumas incursões às esquadras de Los Angeles. Então, numa jam session, no espaço em que a banda trabalhava o álbum, na Sunset Strip, Slash estava a aquecer, através de um exercício de escala circular, acompanhado pelas baterias de Steven Adler. Aquele que, para muitos, era, de facto, o grande compositor dos Guns, Izzy Stradlin, pediu a Slash para “segurar” e repetir a melodia, à qual juntou acordes. Igualmente marcante, surgiu a progressão melódica de baixo de Duff McKagan e, como Slash refere na sua biografia, uma hora depois daquela brincadeira no aquecimento, as coisas ganharam outra dimensão. Aquela estrutura em Ré Sustenido Maior, tocada na tónica Ré, afinada meio tom abaixo (como sucede com todas as canções de “AFD”), estava pronta para ser finalizada, como acontece em tantas das grandes canções populares, por uma mulher…

A filha de Don Everly, dos The Everly Brothers, iniciou aqui a sua carreira como musa de Axl Rose. “Sweet Child o’ Mine” é uma declaração de amor a Erin Everly, futura esposa de Axl, a quem o frontman gunner ofereceu mesmo uma grande fatia dos royalties da canção. Axl Rose confessou que seria impossível tê-la escrito sem Erin na sua vida. A musa recusou a soma milionária. Axl e Erin iniciaram o seu relacionamento em 1986 e passaram a viver juntos. Erin seria ainda a fonte de inspiração para “Patience”, “Don’t Cry” ou “November Rain”. No documentário “Behind The Music” sobre a banda, um dos amigos do casal admite que quando estavam bem um com o outro era algo excelente, mas quando estavam mal era algo horrível. Em 28 de Abril de 1990, Axl e Erin casaram – dizem as más línguas que Axl surgiu, armado, à porta de Erin a altas horas da madrugada, ameaçando suicidar-se se Erin não aceitasse casar-se com ele. O casamento aconteceu em Las Vegas, como qualquer bom drama de excessos e impetuosidade, e um mês depois Axl ponderou o divórcio. Contudo Erin só viria a sair de casa 10 meses após um casamento que, como a relação, esteve sempre envolvido em enorme paixão e não menores escândalos. Em Novembro de 1990, Erin sofreu um aborto espontâneo, o que mutilou ainda mais a relação e lançou Axl numa depressão.

Em Janeiro de 1991, era oficialmente consumado o divórcio, com acusações de agressões, que nunca se confirmaram, mas que a discussão conhecida em que Axl desfez um piano e uma parede de vidro indiciava. Erin assinou um documento em que nunca revelaria detalhes sobre a vida íntima do casal. Axl procurou muitas vezes explicar a devoção à sua musa, que além das vezes em que se consumiam e destruíam a vida um ao outro, havia outras em que as crianças em cada um deles eram as melhores amigas, eram “Sweet Child o’ Mine”. Como a relação de ambos, a própria canção sofreu uma crise na sua composição. Durante as demos foi sugerido acrescentar aquele breakdown no final, depois do primeiro solo. Mas os músicos não tinham soluções para acrescentar e Axl começou a perguntar-se em voz alta «Where do we go?». O produtor das demos, Spencer Proffer sugeriu-lhe cantar isso mesmo e o resto é história da música…

LOCK N’ LOADED

A 29 de Junho de 2018, os Guns N’ Roses reeditaram o seu álbum de estreia em vários formatos especiais que revelam vários extras que irão valer a pena mesmo para os fãs mais hardcore da banda, com destaque para o reabilitado “Shadow Of Your Love”, tema pré-histórico dos gunners que, sendo amplamente conhecido, nunca teve edição oficial. Esta edição não celebra os 30 anos do álbum, como tem sido veiculado, nem da banda que se formou em 1985. “Appetite For Destruction: Lock N’ Loaded” estará disponível numa Super Deluxe Edition com 4CD, 1 Blu-ray Audio e um livro de 96 páginas com fotos inéditas do arquivo pessoal de Axl Rose, numa Deluxe Edition de 2CD, num duplo LP de 180 gramas, numa edição remasterizada de 1CD e também em formato digital para download e streaming. “Appetite For Destruction” foi alargado pela primeira vez a uma edição de 2LPs. O alinhamento está dividido em três lados dos LPs para garantir a máxima qualidade áudio, sendo que o quarto lado contém um holograma do icónico logótipo da banda. A edição de 1CD inclui apenas o álbum com a nova remasterização.

A Super Deluxe Edition é composta por 4CDs que incluem: o álbum remasterizado pela primeira vez; o disco “B-Sides N’ EPs” com remasterizações de gravações inéditas da sessão de estúdio de 1986 no Sound City; um disco Blu-ray Áudio com o álbum, temas bónus e telediscos com uma nova mistura sonora em 5.1 surround, juntamente com o vídeo censurado de “It’s So Easy”, rodado originalmente em 1989 e que só se tornou conhecido com o advento do YouTube (ver no player em cima); um livro de capa dura de 96 páginas com fotografias inéditas do arquivo pessoal de Axl Rose; litografias inéditas da banda, réplicas de bilhetes de concertos, um poster, tatuagens temporárias iguais às dos membros da banda; uma pintura em litografia de Robert Williams e uma réplica do convite para a rodagem do vídeo de “Welcome to the Jungle”, desenhado originalmente por Slash.

Já a Deluxe Edition é composta por 2CDs com os principais destaques da Super Deluxe Edition, incluindo também o álbum remasterizado, vários lados B e temas de EPs, sete gravações inéditas das sessões no estúdio Sound City, o tema “Move To The City (1988 Acoustic Version)” das sessões de gravação do álbum “GN’R Lies” e “Shadow Of Your Love”, a sessão da primeira gravação de estúdio da banda com o produtor Mike Clink, em Novembro de 1986. Um tema que, como sucede com a grande maioria das raridades incluidas nesta reedição, não é uma novidade para os fãs, rodando na internet várias bootlegs do tema composto por Izzy Stradlin e Axl Rose para a banda pré-Guns, à qual se juntariam posteriormente Slash e Steven Adler.

Há ainda a edição “Ultimate F’N Box”, arrumada num cofre de madeira revestido de couro sintético, uma cruz em 3D como a da capa do disco, espaços para guardar raridades da banda e muito mais, que custa 999 dólares!!! Eis a lista completa de brindes, se quiserem dar cabo da vossa vida: Caixa de couro sintético em alto relevo; Cruz 3D feita à mão; Livro de 96 páginas com fotos inéditas do arquivo pessoal de Axl Rose (Super deluxe edition); 4 CDs com um total de 73 faixas, incluindo 49 inéditas; Blu-ray audio disc 5.1 surround sound; 7 LPs de 12 polegadas em vinil 180 gramas, incluindo: O álbum original expandido em dois LPs; Versão do álbum remasterizada a partir das gravações analógicas; Slipcase metalizada em edição limitada; O quarto lado é um holograma; LP de B-Sides e EPs e o EP Live Like a Suicide; 3 LPs com sessões no estúdio Sound City e 25 faixas não lançadas da sessão de 1986 e 2 faixas não lançadas das Mike Clink Sessions; 7 singles de 7 polegadas em vinil amarelo; 12 ilustrações para cada faixa do Appetite for Destruction; Tapete para gira-discos; 6 réplicas de flyers de concertos da época; 1 flyer de convite para a gravação do clipe de Welcome to the Jungle; 1 pano de micro-fibra para limpar discos de vinil; 6 patches para serem aplicados a quente; 5 palhetas de guitarra de metal; 3 réplica de ingressos da época; 5 pins de lapela com as caveiras; 2 moedas colecionáveis de 2”; 1 adaptador para vinis de 7”; 5 anéis de metal da banda; 1 pendrive USB; 5 fotos da banda inéditas; 6 tatuagens temporárias; 1 litogravura de Robert Williams; 2 posters de parede; 1 bandana personalizada com tinta prateada; 1 réplica de cartaz de concerto de 85’/86′ com certificado de autenticidade

PLAY AUTHENTIC

O som de guitarra do disco tornou-se quase tão icónico como a banda. Quando iniciaram as sessões, Slash usava uma Jackson. Ao trocar as cordas (cortou-as de uma vez) o braço sofreu um choque da libertação da tensão e nunca mais conseguiu aguentar a afinação. Então, o manager da banda à época, Alan Niven, comprou a famosa réplica de uma Les Paul ‘59, construída Kris Derring, equipada com PUs Seymour Duncan Alnico II e o guitarrista nunca mais a largou. Para amplificá-la usou um Marshall alugado. «Era um Super Lead de ‘59, dos anos 60. Foi modificado para uma combinação de um JCM com um SL. Foi modificado antes de o alugar, depois de o alugar tentei roubá-lo [risos]», recorda o guitarrista. Essas duas peças lendárias, por sua vez,  também têm sido alvos de réplicas. Estão um pouco fora de orçamento? É normal, material premium tem esse “defeito”…

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